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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

São João Evangelista: Na Solidão, Encontrarás o Senhor





São João Evangelista

27 de Dezembro 


Leia a vida de São João.  



Na Solidão, Encontrarás o Senhor




1. Naquele tempo, disse Jesus a Pedro: “Segue-me” (Jo 21,19). Neste passo do Evangelho, podem-se observar duas coisas: a imitação de Cristo e seu amor para com seu fiel discípulo.

I - A Imitação de Cristo. 


2. A imitação de Cristo está expressa nas palavras: “Segue-me”. Sim, isso Ele o diz a Pedro, mas também a todo cristão: “segue-me, tu também, nu como nu o sou, livre de todo apego como livre o sou”. Por isso é que Jeremias afirma: “Chamar-me-ás de Pai e não te cansarás de andar atrás de mim” (3,19). Segue-me, portanto, e joga fora o peso que levas, pois, carregado como estás, não podes andar atrás de mim que corro. “Corri”, diz o salmista, “tendo sede” (Sal 61,5); por “sede”, entende-se, de salvar a Humanidade. E para onde Ele corre? Na direção da Cruz. Por isso, corre também tu atrás de Cristo, para que, assim como Ele tomou sua Cruz por ti, tu também tomes a tua cruz por ti. Lê-se no Evangelho de Lucas: “Se alguém quer vir após mim, renegue a si mesmo” (9,23), quer dizer, sacrifique a própria vontade, tome sua cruz mortificando a carne, todos os dias, isto é, continuamente, e assim me siga. Portanto: segue-me! Ou, então, se quiseres vir a mim e me encontrar, segue-me, isto é, procura-me à parte. Ele diz aos discípulos: “Vinde à parte, a um lugar deserto, e descansai um pouco. Com efeito, tão grande era a multidão que ia e vinha que Ele não tinha nem mesmo o tempo para comer” (Mc 6,31). Que coisa! Quantas paixões da carne, que multidão de pensamentos vão e vêm pelo nosso coração! E, assim, não temos nem o tempo de nos alimentar com o alimento da eterna doçura, nem de sentir o sabor da contemplação interior. Eis porque o bondoso Mestre diz ainda: “Vinde à parte, para longe da multidão; vinde a um lugar apartado, isto é, à solidão interior, da mente e do corpo, e descansai um pouco
. Sim, “um pouco”, porque como diz o Apocalipse: “Fez-se silêncio no céu por mais ou menos uma meia hora” (8,1); e o Salmo 54,7: “Quem me dará asas de pomba para voar e encontrar repouso?”. E o profeta Oséias também diz: “Eis que eu a amamentarei e conduzi-la-ei ao deserto e lhe falarei ao coração” (2,16). Nestas três expressões (amamentarei/conduzirei/falarei ao coração) se podem notar também três situações: aquela de quem está no começo, aquela de quem está progredindo e aquela de quem já está na perfeição. É a graça que amamenta quem está no começo e o ilumina para que cresça e progrida de virtude em virtude; e, por isso, o conduz do barulho dos vícios, do tumulto dos pensamentos à solidão, isto é, à quietude interior da mente. Aí, então, torna-o perfeito, fala-lhe ao coração e ele sente a doçura da inspiração divina e pode elevar-se de corpo e alma à alegria do espírito. E, então, como é grande em seu coração a devoção! E como são grandes também a contemplação e o êxtase! Através da grandeza da devoção, a pessoa eleva-se acima de si mesma. Através da sublime contemplação, ela se sente como que transportada ainda acima de si mesma; e, através do êxtase, ela é levada como para fora de si mesma. Por isso: “segue-me”. O Senhor fala como uma mãe carinhosa que, quando está ensinando seu nenê a caminhar, mostra-lhe o pão ou uma maçã e lhe diz: “Vem, vem, eu vou te dar!”. E quando a criança está pertinho, pronta para pegar, a mãe, devagarinho, vai se afastando e lhe dizendo, mostrando o pão e a maçã: “Vem, vem, pega!”. Existem também pássaros que tiram do ninho seus filhotes e, voando, os ensina a voar e segui-los. Assim faz Cristo: Ele mesmo se coloca como exemplo para que o sigamos, e promete o prêmio no Reino dos Céus. 




3. Segue-me, portanto, porque Eu conheço o bom caminho pelo qual te conduzir. No Livro dos Provérbios, encontra-se escrito a este propósito: “Mostrar-te-ei o caminho da sabedoria. Conduzir-te-ei pelos caminhos da retidão. Quando neles entrares, teus passos não serão trôpegos, e, se correres, não haverás de tropeçar” (4,11-12). O “caminho da sabedoria” é o caminho da humildade. Bem diferente é o “caminho da estultícia”, porque é o caminho do orgulho. Jesus mesmo no-lo mostrou quando disse: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas” (Mt 11,29). O caminho é estreito, dá apenas para dois pés, de tal modo que nenhum outro possa passar. Diz-se em latim “semita”, isto é, “meia estrada”: “semis iter”, pois “semis” quer dizer “metade” e “iter” quer dizer “caminho”. Caminhos da retidão são os da pobreza e da obediência. Por eles é que Cristo te conduz com seu exemplo, Ele mesmo pobre e obediente. Nesses caminhos não existe estrada tortuosa; tudo é bem plaino, bem reto! Mas o que causa maravilha é o fato de que, mesmo sendo assim tão estreitos, os passos dados neles não são indecisos, sem jeito. O caminho do mundo, ao contrário, é largo e espaçoso. E, no entanto, os seculares (mundanos), aqueles que vivem segundo o mundo, acham que ele nunca é suficientemente largo: são como bêbados que acham sempre estreito qualquer caminho, mesmo o largo. Com efeito, a maldade tem uma estreiteza conatural. A pobreza e a obediência, ao contrário, contêm, é claro, uma restrição, mas por isso mesmo doam também liberdade, porque a pobreza torna rico e a obediência, livre. Quem percorrer esses caminhos seguindo a Jesus jamais encontrará o tropeço das riquezas, ou o tropeço da própria vontade. Segue-me, portanto, e mostrar-te-ei “aquilo que olho não viu, ouvido não ouviu, nem penetrou em coração de homem” (1Cor 2,9). “Segue-me e dar-te-ei”, diz Isaías, “tesouros escondidos e riquezas ocultas” (45,3). E ainda o mesmo: “À vista disso, ficarás radiante de alegria, e teu coração estremecerá e se dilatará” (60,5). Haverás de ver a Deus face a face, assim como Ele é, e te encherás de delícias e riquezas na dupla estola da alma e do corpo. Teu coração admirará as ordens dos Anjos e a moradia dos Bem-aventurados; e, por causa da imensa felicidade, se dilatará na exultação e no louvor. Portanto: segue-me!   



II - O Amor de Cristo para com o seu discípulo fiel.


4. O amor de Cristo para com a pessoa que Lhe é fiel é bem demonstrado, por exemplo, na seguinte passagem: “Pedro, então, tendo-se voltado, viu que o estava seguindo o discípulo que Jesus amava, aquele que na ceia tinha se inclinado sobre o seu peito” (Jo 21,20). Quem realmente segue a Cristo deseja que todos sigam o Senhor. Eis por que se dirige ao próximo com carinho, com oração devota e com a pregação. O “voltar-se” de Pedro significa exatamente isto, e concorda com o final do Apocalipse: “O esposo e a esposa, isto é, Cristo e a Igreja, dizem: ‘Vem!’. E quem escuta diga por sua vez: ‘Vem!’.” (22,17). Cristo, por meio da inspiração celeste, e a Igreja, por meio da pregação, dizem ao homem e à mulher: “Vem!” E quem ouve essas palavras, diga por sua vez ao próximo: “Vem! Não queres seguir a Jesus?”. Portanto: tendo-se voltado, Pedro viu que o estava seguindo aquele discípulo que Jesus amava. E Jesus ama quem O segue. No Livro dos Números, diz-se o seguinte: “O meu servo Caleb, que me seguiu fielmente, Eu o introduzirei na terra que ele percorreu. E a sua geração dela tomará posse” (14,24). A glossa, sem dizer o nome, mas com as palavras “que Jesus amava”, está indicado o discípulo João, e ele se distingue dos outros, não porque Jesus amasse somente a ele, mas porque amava mais a ele do que aos outros. Amava também aos outros, mas a este o amava com “maior afeição”. E Jesus gratificou-o com uma ternura maior de seu amor, pois o havia chamado quando era ainda virgem, e virgem ele permaneceu; por isso a ele Jesus confiou sua própria Mãe. Este foi um gesto imenso de amor! Somente João repousou a cabeça no peito de Jesus, “no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Col 2,3). Nesse mesmo gesto, estava como que prefigurado o fato dos inumeráveis segredos divinos que ele haveria de escrever, a diferença dos demais Evangelistas.


5. Pode-se observar, também, que Jacó descansou sobre uma pedra e João, sobre o peito de Jesus. Aquele, durante a caminhada; este, durante a ceia. Em Jacó são representados os peregrinos sobre a terra, em João os Bem-aventurados (no Céu). Aqueles, durante a caminhada terrena; estes, já chegados à Pátria celeste. No Livro do Gênesis, se diz: “Jacó partiu de Bersabéia e dirigia-se a Haran. Querendo descansar, pegou uma pedra, colocou-a sob a cabeça e dormiu. E, em sonho, viu uma escada em pé, e Anjos subindo e descendo por ela, e o Senhor no topo da escada.” (28,10-13). Jacó é o justo ainda peregrino sobre esta terra, onde tem muito que lutar. Ele sai de Bersabéia, que significa “sétimo poço”, e representa o poço sem fundo da cobiça humana, exatamente como o “sétimo dia”, do qual se lê não ter fim. Dirige-se rumo a Haran, que significa “alto”, e representa, por isso, a Jerusalém celeste. O profeta Habacuc o diz: “Subirei e me unirei ao nosso povo já em paz”, o nosso povo que triunfou sobre a maldade do século. E, por desejar aliviar o cansaço de sua peregrinação, o justo coloca sob a cabeça uma pedra e adormece. A “cabeça” é a mente. A “pedra” é a firmeza da fé. A “escada em pé” representa o duplo amor: a Deus e ao próximo. Os Anjos são os homens justos que sobem até Deus elevando-se com suas mentes, mas abaixando-se até o próximo através da compaixão. A pessoa justa, então, durante a peregrinação terrena, coloca a mente na firmeza da fé para descansar. Eis por que está escrito nos Provérbios: “O arganaz, uma espécie de marmota, por sua natureza, é fraco e faz seu esconderijo na pedra” (30,26). O arganaz, animal tímido, representa quem é fraco no espírito e, por isso, não sabe opor-se com força aos ataques de qualquer espécie, e coloca, na pedra da fé, o travesseiro da sua esperança, para aí poder descansar e dormir e ver elevar-se em si mesmo a escada do amor. Observe-se que o Senhor está no topo da escada por dois motivos: para sustentá-la e para acolher os que nela sobem. Na realidade, Ele sustenta o peso da nossa fragilidade de modo a estarmos em grau de subir a escada através das obras do amor. E Ele acolhe aqueles que sobem, para que possamos também nós nos tornarmos eternos e bem-aventurados com Ele, que é eterno e bem-aventurado. E, então, naquela ceia que nos saciará para sempre, descansaremos com João sobre o peito de Jesus. O “coração no peito” é o amor no coração. Descansaremos em Seu amor, porque haveremos de amá-lO com todo o coração e com toda a alma, e encontraremos n’Ele todos os tesouros da sabedoria e da ciência. O amor de Jesus! Que tesouro colocado no amor! Que sabedoria de inestimável sabor! Que ciência Ele nos faz conhecer! Serei saciado”, diz o salmista, “quando aparecer a tua glória” (16,15) e “Esta é a vida eterna: conhecer a Ti, o único verdadeiro Deus e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3). A Ele sejam dados louvor e glória pelos séculos eternos. Amém.


Sermão de Santo Antônio, em “Festa de São João Evangelista” (III, pg.31-35)


Traduzido diretamente dos originais em latim por frei Geraldo Monteiro, conforme a edição crítica: “Sermões Dominicais e Festivos, III volume, Pádua, 1979, Ed. Messaggero. Padova. 

       

2 comentários:

  1. Olá Giulia. Estou fazendo essa campanha: vamos comemorar o centenário de Fátima e o tricentenário de Aparecida em 2017 com o rosário diário? Serão ao todo 365 rosários, um por dia. Rezemos também em reparação das blasfêmias contra o doloroso e imaculado coração de Maria. Que tal a idéia? Giulia, por favor. Passe adiante... Agradecido!

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    1. Já compartilhei e publiquei no blog de orações: http://precantur.blogspot.com/2016/12/um-pedido-para-2017.html (copie e cole no navegador)

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