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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

TU E A CONFISSÃO

TU E A CONFISSÃO



Por Daniel A. Lord, S. J.

 


É PARA TODOS. 

Nosso Senhor instituiu a Confissão para todos. Por isto, todos os católicos se confessam.

O Santo Padre, como qualquer outro homem, ajoelha-se perante seu confessor e diz seus pecados. Uma das primeiras coisas que a criança aprende é fazer uma boa Confissão. A Igreja aconselha seus membros de se confessarem antes da maior parte das ações importantes da vida. E, no fim, quando a morte está lançando a sua sombra, na antecipação do voo rápido da alma para a Eternidade, a graça mais importante que pode ter um moribundo é uma boa Confissão.

Pecadores, depois de uma vida de pecados e vícios, podem achar o caminho de volta para Deus somente pelo arrependimento e a Confissão.

Mas, os Santos gostam de se confessar; pois, depois de ter referido seus pecados e sentido a inefável misericórdia e amor de Deus, verificam quão perto estão de Deus.

É uma coisa encantadora ir uma família inteira à Confissão como preparação para receberem todos juntos o Bom Pastor na Santa Comunhão.

E quando os noivos juntos se dirigem ao confessionário, descobrem um novo laço de união para seu amor.

A Confissão é para todos. Quis Deus que ela fosse a fonte da felicidade e paz, coragem e força.

Este opúsculo, escrito por um eminente diretor de almas, e cuja tradução publicamos, quer ajudar a todos que se confessam.  









DOIS TIPOS DE ERROS


1. CUIDADO DEMASIADO.

Não será mal começar com os erros quanto à Confissão. E uma vez removidos estes, poderemos abordar a questão de como bem confessar.

Comete erro do primeiro tipo o penitente que se agonia por causa da Confissão. Cria positivamente horror da Confissão. Tem mais medo dela que de ir ao dentista. Examina a consciência até que esta se contorce de dores. Entra no confessionário com os sentimentos do homem que vai para a cadeira elétrica. E, acabada a Confissão, ele está banhado de suor e passa minutos intoleráveis tentando persuadir-se de que a Confissão foi bem feita ou que não o foi.

Sem dúvida, totalmente errado. Pois Cristo que instituiu a Confissão era o Cristo Pai do Filho Pródigo, O Cristo Bom Pastor, o Cristo Misericordioso que perdoou os pecados de Maria Madalena e a tríplice negação de Pedro, o Cristo que nos contou da indizível alegria no Céu por causa de um pecador que faz penitência.

Devíamos aproximar-nos da Confissão com alegria. A Confissão deveria ser feita com confiança infinita na misericórdia de Deus. Deveríamos lembrar-nos dela com a sensação de um intenso alívio.


2. CUIDADO INSUFICIENTE.

O erro do segundo tipo é cometido pelo penitente que não se incomoda bastante. A Confissão tornou-se para ele uma rotina. Ele a faz sem nenhum cuidado e, talvez, mesmo sem pensar no que está fazendo.

Para protestantes tais católicos são enigmas - como o são, igualmente, para católicos educados e instruídos.

Se a Confissão nunca foi concebida como instrumento de tortura para a alma, também não foi instituída para ser uma coisa de que a gente se aproxima dançando descuidadamente, ou que nos deixe achegarmos leviana e irrefletidamente, quase sem preparação e sem resultados perceptíveis para o melhoramento e fortalecimento da vida.  


A Confissão é tremendamente importante.

É tão importante aos olhos de Deus como o é o pecado aos olhos do diabo. Pelo pecado, o demônio agarra a alma e a segura firmemente. Pela Confissão, a alma volta a Deus. Mas a alma não pode entregar-se ao demônio sem que o saiba e queira claramente, nem pode o homem voltar a Deus, a não ser que pense no que está fazendo e deseje tornar a ser amigo de Deus e filho de Deus.


A CONCEPÇÃO CERTA


A Confissão deve ser uma fonte de verdadeira alegria. Por meio dela o pecado é perdoado.

Escutamos o que um homem revestido do poder conferido por Deus, diz claramente: "Teus pecados estão perdoados. Eu te absolvo. Vai em paz".

Estas palavras pronunciadas por aquele homem são poderosas: a alma que tinha perdido a amizade de Deus de novo se torna amiga d’Ele; a alma cujo passaporte para a Eternidade tinha sido rasgado, recebe um novo documento, e o Céu lhe está garantido.

Antes da Confissão, a pessoa talvez estivesse em perigo iminente de cair no Inferno. Depois de ter feito uma boa Confissão, ela se encontra, de novo, na estrada certa e segura que conduz à felicidade eterna.

Mas isto exige uma verdadeira cooperação da parte do pecador. Deus não pode perdoar os pecados de uma pessoa que não está arrependida dos que cometeu. Pior do que desperdiçada é a absolvição que o sacerdote pronuncia sobre o pecador que não está resolvido a desistir de pecar. O pecador que entra no confessionário sem pensar no que está fazendo, que entra sem arrependimento e sem sinceridade, sai dele em piores condições do que entrou.

Porque Cristo, atrás do sacerdote, segue o curso da Confissão e olha para as profundezas da consciência humana. Ele sabe se o pecador está arrependido ou não. Sabe porque o pecador veio confessar-se: Ele acrescenta à absolvição as palavras com as quais despediu a mulher surpreendida em adultério: "Vai, e não peques mais".


A GENTE QUE SE CONFESSA


Entre os vários tipos de pessoas que se confessam encontramos os seguintes:


1. O PECADOR QUE NÃO SE CONFESSA HÁ ANOS.

Quando depois de anos de pecados, depois de uma vida passada "numa terra distante... vivendo dissolutamente", um homem ou uma mulher volta ao confessionário, Deus está contente, e o sacerdote sente-se profundamente feliz.

O pecador naturalmente não achará fácil dizer quanto tenha sido velhaco. A relação de seus pecados não o encherá de orgulho de si mesmo. Pode até preparar-se para a repreensão merecida.

Tudo isso, porém, é perfeitamente secundário para a alegria do sacerdote que vê voltar um pecador que tantos anos errava longe. Para o sacerdote, foi uma boa noite aquela que passou no confessionário, ajudando a achar a felicidade, o perdão e a paz a um homem ou mulher que tanto tempo foi inimigo de Deus.

A alegria do sacerdote é todavia modesta em comparação com a do próprio Cristo. Este é o momento pelo qual Ele esperava. Ele, Pai do filho pródigo, abraça agora o viajor errante. Carrega a ovelha desgarrada ao redil, apertando-a contra o coração. Sua morte na Cruz não foi em vão. Ele achou Seu irmão, Sua irmã perdidos há muito tempo.

Cristo disse tudo isto tão claramente, quando falou da alegria no Céu por causa do pecador que faz penitência. Ele falou da alegria da mulher que achou a pequena moeda que tinha perdido. E quando, durante a sua vida na Terra, um pecador, procurando perdão, se Lhe aproximou, Ele recebeu-o de braços abertos e com uma torrente de misericórdia e amor.


2. O PECADOR HABITUAL.

É o homem ou a mulher que comete sempre e de novo os mesmos pecados. Algum hábito vicioso tomou posse do pecador, e ele ou ela sentem-se impossibilitados de se livrar.

Algo como desespero gela a alma desta gente. "Tinha vontade de melhorar. Estava firmemente resolvido a não mais cometer este pecado. Falhei. Que esperança há para mim desta vez?"

Não importa quantas vezes o pecado é cometido, ou quão profundamente está arraigado o hábito, eles devem continuar a ir a Cristo na Confissão. Enquanto estão resolvidos a tentar melhorar a vida, eles devem voltar à Confissão. Virá o dia que lhes trará a realização de suas esperanças e a ruptura do hábito de pecar.

Pois Deus quer ajudá-los. Ele está muito mais interessado em ver a falta corrigida do que eles mesmos o podem ser. Ele deseja derramar Sua força nestas almas. Talvez eles confiassem demais nas suas próprias forças e não recorressem com bastante cuidado a Deus.

Além disso, a Confissão não é somente um meio de obter absolvição e perdão. Ela é uma fonte de força. Possui grandes poderes curativos. A graça do sacramento é a ajuda mais forte possível contra a repetição dos pecados.

Portanto, mesmo quando há hábitos de pecado em sua alma, o pecador sabiamente se confessa, porque:

• Deus lhe dá novas forças.
• A Confissão mesma é uma fonte de força.
• O sacerdote poderá dar-lhe um conselho que resolva seu problema.
• Com seus repetidos esforços de renunciar ao pecado, triunfará no fim.


3. A GENTE EM GERAL

A vida da mor parte dos homens e mulheres é uma mistura de bondade e maldade, de virtude e pecado. Fazem muita coisa boa; entretanto, sentem que a fazem sem fervor, nem com muito cuidado. Fazem muita coisa pecaminosa e imperfeita. E fazem-na tão facilmente.

Para tais, a Confissão é preciosíssima.

Os seus pecados lhes são perdoados e tirados, pela misericórdia de Deus.

Recebem nova força para fazer, com coragem e constância, as coisas que querem fazer.

Sentem a incessante necessidade da misericórdia de Deus. Sentem que mesmo mais precisam da força de Deus, rodeados, como estão pela onipresente pressão da tentação.


4. OS BONS.

Seus pecados são poucos.

Às vezes têm a impressão que não têm quase nada que dizer na Confissão. Não será a Confissão um desperdício de tempo para tais? Não estarão eles tomando simplesmente o tempo ao sacerdote, quando há almas realmente pecadora para serem absolvidas, e gente fraca a ser fortalecida?

Mas ninguém pode conhecer a extensão e natureza de seus pecados próprios. Por isto, confessando-se, mesmo os bons são beneficiados: recebem o perdão daqueles defeitos e fraquezas humanas das quais nem tenham consciência.

O Purgatório, para o qual os nossos pecados nos encaminham, é, pelo poder da Confissão — com o arrependimento e a penitência imposta —, reduzido em intensidade e duração.

De novo, a graça do Sacramento é derramada sobre a vida dos bons. São fortalecidos contra esta ou aquela terrível tentação que, talvez, de repente se levantará e quase os venceria. Por causa da força que alcançaram na Confissão, executam mais facilmente as coisas difíceis exigidas de todos que tentam levar vida santa.


CRISTO INSTITUIU A CONFISSÃO


Como este livrinho se dirige a católicos, não será necessário provar longamente que Cristo instituiu a Confissão.

Deveríamos quase esperar que Ele fizesse isto, já que conhece a universalidade do pecado e a necessidade constante de serem perdoados os pecados do homem.

Os passos pelos quais Ele instituiu o sacramento da penitência são, entretanto, notavelmente claros.

Quando o paralítico descido pelo teto jazia na Sua presença, Cristo disse-lhe simplesmente: "Filho, teus pecados te são perdoados".

Os que se achavam ao redor eram tipicamente protestantes. Protestavam:"Qual é o homem sobre a Terra que pode perdoar os pecados?". Cristo, o Homem-Deus. Para provar que Ele tinha o poder de perdoar pecados, deu-lhes um sinal: Se Ele restituísse a saúde perfeita ao homem, eles acreditariam que Ele tinha também o poder de perdoar pecados? Porque, certamente, restituir a saúde ao corpo era quase tão admirável como restituir a saúde à alma.

Calmamente respondeu à dúvida deles com a prova:

"Mas para que saibais que o filho do homem tem poder sobre a Terra de perdoar pecados, eu te digo (ao doente): ‘Levanta-te, pega na tua cama e vai para tua casa’...".

Com isto, o homem levantou-se e dali saiu um homem são. Cristo provara seu poder de perdoar pecados.

Este poder de perdoar pecados, Cristo passou-o depois para os seus discípulos, como um dos mais importantes direitos:

"Recebei o Espírito Santo. A quem vós perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados: a quem vós retiverdes os pecados, ser-lhes-ão retidos".
Deste modo, o poder de perdoar pecados e — por razões especiais — de os não perdoar foi dado diretamente por Cristo aos Seus discípulos que, por sua vez, passaram tal poder aos seus sucessores.

Agora, este é um dos poderes de cuja posse a Igreja nunca por um momento sequer duvidou, e nunca por um momento sequer deixou de usar. Através da |História, a Igreja constantemente perdoou pecados, e, onde a pessoa claramente mostrava que não merecia perdão, Ela declinava de perdoar.

Se, hoje, a Igreja afirma possuir este poder e o usa, ela não faz mais do que fez Cristo, o que Cristo mandou fazer aos Seus discípulos, e o que a Igreja sempre tem feito.


MUITO RAZOÁVEL


Ao dar este poder aos homens, Cristo agiu muito sabiamente. Nós, seres humanos, vamos a um médico para a cura de nosso corpo. E Cristo deu-nos médicos para as nossas almas. Os pecadores têm uma apreensão muito clara do horror de seus pecados. Sabem o que significa pecar. Sentem o agudo remorso depois do pecado. Temem as terríveis consequências destes pecados, agora e para o futuro. Eles desejam uma segurança palpável do perdão. Tal segurança lhes vem claramente da boca de seus sacerdotes. Apontados por Deus e dotados de um poder divino, os sacerdotes dizem aos pecadores: "Eu te absolvo de teus pecados, em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo. Vai em paz". Entra no ouvido humano e de lá no humano coração a positiva afirmação do perdão. Isto não é a voz silenciosa de Deus; é a voz audível de Seu representante humano. O pecador levanta-se feliz e seguro. O próprio embaixador de Deus disse-lhe que está perdoado. Ele está em paz quando sai do confessionário; está certo que de novo é amigo de Deus, herdeiro do Céu. Cristo não poderia ter elaborado um modo mais belo para dar a homens perturbados pela consciência de seus pecados, a paz e o conforto de saber que esses pecados foram lavados da alma.


FREUD CONCORDA


Quando Freud começou a estudar a moderna nervosidade humana e os distúrbios e os caos das almas modernas, insistiu na importância de que o coração seja aliviado do peso de pecados e crimes passados, mesmo se um médico for o confidente. O paciente acharia alívio se contasse seus males e apresentasse, franca e honestamente a um outro, os vícios que perturbaram o seu passado.

Então Freud e seus sequazes descobriram que uma classe de pessoas eram os menos necessitados de tal alívio. Eram os católicos. Eles já tinham essa oportunidade de se livrar, providenciada para eles pelo Salvador, Jesus Cristo, quando instituiu o Sacramento da Penitência.

Bem, obviamente, este alívio é de importância secundária; o perdão dos pecados e a restituição da graça santificante às almas é de importância primária.

Quando a vítima de um colapso nervoso conta ao médico suas dificuldades e pecados, tudo quanto o médico pode fazer é dar-lhe conselhos e tentar uma correção e cura a longo prazo. Quando um católico vai à Confissão, sabe que será curado dos seus pecados. Ele será restituído à vida.

Além disso, porém, há um alívio consolador que vem com a Confissão. Perdão é o objetivo principal. A remoção dos pecados é a grande finalidade do Sacramento. Ora, quando um católico se confessa, ele conta a um representante de Deus as coisas que incomodavam e torturavam sua alma mergulhada em remorso e arrependimento; ele passa pelo mui humano alívio de contar suas dificuldades a uma outra pessoa. Mesmo psicologicamente é isto uma grande benção. Cristo, como se vê, antecipou-se aos psicólogos por longos séculos. A Confissão devia ser um meio de curar as feridas causadas pelo pecado. Mas devia ser também a doce oportunidade de expor a um humano representante de Deus os nossos problemas e as dobras em nosso caráter produzidas pelo pecado.


QUANTAS VEZES?


Com que frequência deveríamos confessar-nos?

Sem dúvida, todos deveriam confessar-se o mais cedo possível depois de um pecado mortal.

Estritamente falando, ninguém jamais está obrigado, sob pecado, a se confessar se não houver falta mortal na sua vida. Mas além de obrigação, há a graça do Sacramento; e mesmo quando alguém não cometeu pecado mortal, esta graça é preciosíssima e importantíssima.

Agora que a Comunhão frequente é a regra para quase todos que levam vida boa, dever-se-ia ir à Confissão cada duas semanas mais ou menos, mesmo quando não houvesse pecado mortal a ser confessado.

Às pessoas que tiverem hábitos pecaminosos, aconselha-se que se confessem mais amiúde, para alcançarem a força própria do Sacramento. Se alguém passar por um período de graves problemas ou tentações fortes — p. ex., na mocidade — a prática da Confissão frequente é extremamente sábia.


UM CONFESSOR ESTÁVEL


Há pessoas que procuram o confessor que "tem menos gente à espera diante do confessionário".

A pessoa avisada [prudente], que realmente deseja tirar a maior vantagem da Confissão, escolhe um confessor determinado. A este confessor procura sempre de novo.

Ela se dá a conhecer ao confessor.

Isto não pelo nome. "Virei regularmente confessar-me com o senhor, Padre", diz. E, se tiver qualquer problema que deseja tratar com o sacerdote, acrescenta: "Queria ouvir os seus conselhos a respeito de minha vocação", ou: "Ando com dificuldade a respeito da fé", ou ainda: "Espero que V. Revma. me ajude a vencer tal e tal tentação".

Quando uma pessoa tiver declarado o seu desejo de ajuda, conselho e direção, o confessor, sentir-se-á com a maior vontade de fazer tudo o que tiver ao seu alcance.
 

Especialmente bem age o penitente que contraiu um hábito de pecar, que tenta decidir a sua vocação, que sofre de dificuldades na fé, que se vê em frente de dificuldades no lar ou no lugar de trabalho, ou que seriamente deseja sua própria santificação, quando escolhe um confessor estável.

Em breve, o confessor saberá como tratar com esta pessoa, como um médico sabe tratar um paciente que sempre recorre a ele. O católico com um confessor estável, ao qual ele se explica e do qual pede e aceita conselhos, está bem encaminhado na estrada para a felicidade, o sucesso e o Céu.


VANTAGENS DA CONFISSÃO


Você tem o direito de esperar o seguinte da Confissão:

  1. Perdão dos pecados. Este é o objetivo essencial da Confissão, mas somente um dos objetivos.
  2. Ajuda para vencer as dificuldades quaisquer que sejam. O confessor é um sábio guia e diretor. Ele espera seja-lhe permitido ajudá-lo com sua experiência profissional e com sua sabedoria.
  3. Ajuda para planejar e levar adiante uma vida cheia e útil. O sacerdote não está interessado unicamente em perdoar pecadores; ele deseja ajudar as pessoas boas a se tornarem melhores, e as melhores a se tornarem santas. Ele gosta de ajudar a mocidade em achar o trabalho de vida conveniente, e está feliz quando pode contribuir para que gente mais velha possa fazer mais perfeitamente a obra que Deus lhes deu para fazer. Ele é um mentor, um conselheiro experimentado. Ele gosta de ser chamado para ajudar.


CONFISSÃO GERAL


A confissão geral é aquela que abrange um certo número de confissões passadas, repetindo matéria já confessada nestas confissões precedentes. Às vezes, a confissão geral consiste em contar de novo todos os pecados mortais da vida passada. Às vezes consiste na recapitulação dos pecados de um ano ou de um período maior. Muitas vezes, pessoas que fazem o retiro anual, fazem uma confissão geral de todo o ano passado.

Pessoas escrupulosas nunca deveriam fazer uma confissão geral, a não ser a conselho do confessor.

A confissão geral deve ser feita quando uma das confissões anteriores for mal feita e nunca endireitada.

O valor da confissão geral, mesmo quando todas as confissões precedentes foram boas e sinceras, é enorme. Por tal Confissão, o homem torna-se mais humilde. Põe em contraste a tremenda bondade de Deus, com o número dos pecados próprios. É um meio de precaver-se contra o pecado no futuro. Ajuda para fazer planos para o ano vindouro, e dá determinação de evitar os pecados que mancharam ou estragaram o ano passado.

A confissão geral anual pode assim servir de índice do nosso progresso espiritual, mostrar se alcançamos ou regressamos, desde a última confissão geral, e preparar-nos para um ano mais santo. Muitos diretores de retiros recomendam se faça uma confissão geral durante o retiro. Uma missão popular poderá oferecer a mesma oportunidade. A confissão geral é, muitas vezes, aconselhada a pessoas que entram num novo estado de vida, e por isto fazem-na os que estão para se casar ou entrar na vida sacerdotal ou religiosa.


OS DEGRAUS PARA A CONFISSÃO


1. UM ATO DE GRATIDÃO PARA COM DEUS.

E este um belo prelúdio à Confissão. Antes de pensarmos nos nossos pecados, lembramo-nos da maravilhosa bondade de Deus. Contrastando com Sua bondade, a nossa ingratidão e o peso dos nossos pecados são realçados, o que torna mais fácil o nosso arrependimento.

Poder-se-ia rezar da seguinte maneira:

Bondoso e generoso Pai do céu, antes de eu começar a pensar nos meus pecados, posso primeiro pensar na Vossa generosidade para comigo? Vós destes-me o dom da vida. Vós me criastes a mim, quando podíeis ter criado a um outro, santo, que vos amasse e vos servisse devotamente. Vós me destes a fé, o batismo com o direito ao céu, a vida divina que é a graça santificante na minha alma. Vós me destes vosso Filho como Salvador e guia e meu alimento na Santa Comunhão. Vós me destes o Deus que habita em nós, na Crisma. Quando eu pecava, não me abandonastes, mas me perdoastes e me destes mais uma oportunidade de reabilitação. Vós destes-me tantos benefícios — saúde, educação, amigos, possibilidades na vida — que nem mesmo sei começar a agradecer-Vos. Nem posso devidamente dar-Vos graças por aqueles favores que de um modo especial fazem de mim vosso filho favorecido. (Aqui faze uma pausa e pensa nos dons particulares que Deus deu só a ti).

Eu sei que vós fostes maravilhosamente bom e generoso para comigo. Em troca eu vos dei o pecado, e o mal, e o mais relutante e egoístico serviço. Mas sou realmente grato. Vossa generosidade faz meu pecado parecer-me até mais grave. Pelo menos antes de começar a minha Confissão, posso dizer-vos como vos agradeço tudo quanto fizestes por mim. E na luz de vossa bondade deixai-me ver o meu egoísmo e a minha completa falta de generosidade para convosco meu bondoso e generoso Pai.

Meu Deus, eu vos agradeço. Perdoai-me se a minha resposta consistiu em egoísmo e pecado.


2. UM PEDIDO DE LUZ.

Antes de sermos capazes de confessar devidamente os nossos pecados, devemos conhecê-los. Numa Confissão completa, indicamos todos os pecados mortais dos quais nos tornamos culpados, e o número de vezes que os cometemos.

Mas homens e mulheres podem enganar-se. Podem pretender que certas coisas não passem por más, quando na realidade o são; ou que não sejam tão graves, como o são, aos olhos de Deus. Por isto, é importantíssimo que vejamos os nossos pecados como Deus os vê. Este ponto de vista exige uma avaliação honesta de nossa conduta. E para tal precisamos do auxílio de Deus.

De nossa parte, é o maior erro possível exagerar nossos pecados. Pode-se ser desonesto pretendendo que certas coisas sejam pecados quando não o são, ou engrossando pecados veniais para que pareçam mortais. Às vezes, há gente que toma atitudes tão estranhamente desonestas.

Do outro lado, o homem pode ser desonesto pretendendo que coisas que são pecaminosas não o sejam de forma alguma.

No confessionário, o sacerdote no trato com o penitente segue uma regra de conduta que todos deveriam conhecer e lembrar. O confessor foi ensinado a acreditar no penitente, quando este diz coisas que são em seu próprio descrédito. Acredita no penitente! Este é o único recurso de ação para o sacerdote. Desta forma, toda a questão de honestidade depende daquele que faz a Confissão.

Honestidade não significa escrupulosidade. Não significa esquadrinhar a consciência, torturando-a a fim de descobrir coisas que talvez passaram ao esquecimento, há muito tempo. Não significa tentar achar pecados que não existem, ou pensar que o confessor se sentirá decepcionado quando não tivermos que relatar pecados maiores. Honestidade significa simplesmente o nosso sincero, não demasiadamente prolongado esforço de chegar aos nossos pecados em nossa consciência e de achar as palavras para os declarar simples e candidamente.

Deus está sumamente interessado em ajudar à pessoa sincera a fazer bem a Confissão. Peçamos, pois, a Deus que nos deixe ver os nossos pecados assim como Ele os vê. E acrescentamos o pedido de sentirmos verdadeiro arrependimento.

Poderíamos usar a seguinte espécie de oração:  

Meu Deus que um dia sereis meu juiz, eu vos peço, ajudai-me a preparar-me honesta e corretamente para a Confissão. Sinceramente desejo conhecer os meus pecados assim como Vós os conheceis. Ajudai a minha memória, a fim de que nada com que vos ofendi seriamente escape à minha atenção. Tratarei de lembrar-me exatamente quantas vezes cometi aqueles pecados; então serei capaz de dizer isto devidamente ao Sacerdote.

Portanto, Deus da luz e da verdade, ajudai-me a conhecer os pecados e dizê-los assim como são na realidade. Dai-me honestidade, a fim de apresentá-los de forma que o Sacerdote o possa compreender exatamente. Não desejo ser desnecessariamente escrupuloso, ou desperdiçar tempo e energia com coisas que não são pecados. Mas eu quero é fazer uma Confissão completa e honesta.

Mas tenho um pedido ainda mais importante, meu bom Deus: dai-me arrependimento dos meus pecados. Para isto, preciso de vossa ajuda. Deixai-me ver o mal do pecado. Deixai-me saber quanta pena e tristeza mereço por meus pecados. Deixai-me pensar brevemente nos castigos do inferno e nas alegrias do céu. Mas, além disto, quero ver o que o pecado fez de Jesus, meu Salvador no Calvário. E desejo odiar o pecado porque Vós sois tão bom e belo, e o pecado é tão ruim e hediondo, e interesseiro e vil.

Ajudai-me, Santíssima Trindade, a fazer uma boa Confissão. Meu Pai, daí-me arrependimento. Meu Salvador, lembrai-me o vosso Calvário. Espírito Santo, Espírito da verdade e do amor, iluminai minha mente, ajudai a minha memória, mas, principalmente, levai o meu coração para o verdadeiro arrependimento dos meus pecados.


3. EXAME DE CONSCIÊNCIA.

Na Confissão, temos obrigação de acusar só os pecados sérios, isto é, os pecados mortais dos quais temos certeza. Não há obrigação de confessar pecados veniais. Pode dizer seus pecados veniais, e é bom para o penitente, se o fizer. Mas se ele esquecer pecados veniais ou deliberamente os calar, a integridade da Confissão não sofre.

Pecados mortais, entretanto, sempre devem ser confessados. Devem ser mencionados pelo nome, isto é, dizer exatamente de que espécie são. Também deve-se dizer quantas vezes foram cometidos.

Se, por uma falha de memória, uma pessoa se esquece de mencionar um pecado mortal de que é culpada, ou, sem o querer, diminui os números dos pecados, não precisará inquietar-se. Não precisará voltar ao confessionário para corrigir a omissão ou erro cometido sem culpa. O pecado foi perdoado junto com os outros que foram confessados.

Na seguinte Confissão, porém, deve acusar este pecado, e dizer que por esquecimento ou por um engano, deixou de o acusar na Confissão passada.

Se qualquer pecado mortal deliberadamente não for acusado, a Confissão é sem valor e má. Se alguém deliberadamente indica um número menor de vezes que um pecado mortal for cometido, a Confissão é mal feita. Não é permitido calar o número. Ou se alguém, digamos, se deteve dez vezes em pensamentos impuros, ele se confessa mal quando diz que teve tais pensamentos cinco vezes, sabendo que foram dez vezes.

Não é demasiadamente fácil cometer um pecado mortal.

Pois, para isto, como é sabido, três causas são necessárias.   


A. A matéria do pecado deve ser grave.

Deve ser um prejuízo real para Deus, para nós mesmos, para outros. De outra forma há pecado venial.

B. Devemos saber o que estamos fazendo no momento em que cometemos o pecado.
  
A isto, muitas vezes chamam advertência suficiente. Suponhamos que alguém faça alguma coisa que julga perfeitamente lícita; mais tarde descobre que a ação era proibida; certamente não está culpado de pecado. Se come carne em dia de abstinência sem se lembrar que tal dia é dia de abstinência de carne não há pecado algum. Se alguém fizer alguma coisa pecaminosa em si, mas sem pensar no que está fazendo, não comete pecado.

Do outro lado, se alguém suspeita que alguma coisa é pecado e deliberadamente não se informa se a ação e boa ou má, comete pecado, quer seja a ação boa, quer má. Porque, em tal caso, age com consciência dúbia e com atitude de quem age sem se importar se é boa ou má a ação que faz. Isto coloca-o numa posição errada, e ele é deliberadamente responsável por sua consciência errônea. P. ex., um moço rouba uma motocicleta. Ele não sabe exatamente quanto uma coisa deve valer para que o ato de furtar se torne pecado mortal. Argumenta: "Enquanto não souber, não cometi pecado mortal". E por isso não se informa. Sua ignorância é culpável. Daí não se pode dizer que o furto não foi pecado mortal por causa de ignorância.

Da mesma forma, há muitas vezes pessoas que tratam de continuar na ignorância a respeito do que constitui pecado mortal contra a castidade.

Ignorância que uma pessoa cultiva ou que deseja reter não desculpa de pecado mortal.  


C. Devemos consentir plenamente.

Isto significa: para que um pecado seja pecado mortal, a pessoa deve estar completamente acordada, cônscia; deve escolher deliberadamente o mal e deve cometer o pecado com plena determinação.

Portanto, não se pode cometer pecado mortal quando se está dormindo ou meio acordado. Uma pessoa demente não pode ser culpada de pecado. Se alguém matasse a outra pessoa num acidente, não havendo intenção de matar, não haveria pecado.

É possível que um homem esteja tão embriagado que já não sabe o que está fazendo. A embriaguez é culpa sua e pecaminosa. Suponhamos que, durante o estado de embriaguez, fique envolvido numa briga e fira a um outro. Se não previu a briga e estava tão embriagado que já não sabia o que estava fazendo, perante Deus não é responsável pelas consequências da embriaguez. Mas se previu que, estando bêbedo, chegaria provavelmente a brigar, como já aconteceu outras vezes, e a ferir o adversário, ele fica plenamente responsável pelas consequências da briga.

Às vezes, encontra-se este argumento falso: "Se ficar embriagado, provavelmente cometerei pecado contra a castidade, como aconteceu no passado. Mas, por estar bêbedo, não terei uso completo de minhas faculdades; portanto, não terei culpa". Tal raciocínio está completamente errado. Prevendo a possibilidade do pecado que será cometido, ou a sua probabilidade, a pessoa que age em tais condições é culpada, mesmo se comete o pecado em estado de embriaguez.

Por isso, se uma pessoa prevê que, em estado de embriaguez, fará coisas que são moralmente más, e contudo se embriaga, é culpada dos pecados que comete, enquanto está bêbeda. Porque admitiu deliberadamente não só a embriaguez mas ainda as consequências da embriaguez.

Isto vale também para os que usam tóxicos para destruir completamente sua força de vontade, e que tornam fácil o pecado mortal e os subtraem aparentemente ao controle da vontade.

Tal conduta, porém, é bastante rara. É importante lembrar que ninguém pode cometer pecado mortal a não ser que queira cometer pecado mortal; que acidentes nunca são pecados; que, sem desejar fazer uma coisa que é má, não há culpa de pecado.


MODO DE PROCEDER


1. COM RESPEITO AOS PECADOS.

A. O penitente que se confessa frequentemente, para quem a Confissão faz parte de uma vida normal, não precisa de tanta atenção para o exame de consciência como uma pessoa que se confessa raras vezes.

As seguintes observações, portanto, referem-se mais a pessoas que se confessam frequentemente.

Com toda probabilidade, pecados mortais distinguem-se claramente e são facilmente lembrados. O penitente lembrar-se-á se fez coisa notavelmente má. No momento em que começa a preparação para a Confissão, tal ou tais pecados manifestar-se-ão com toda a força. Não precisará de um intenso escrutínio de sua alma para descobri-los.

Se não tiver cometido pecados mortais, deveria escolher, para a Confissão, certos tipos de pecados veniais. Sabiamente acusará aqueles de seus pecados que magoam, incomodam ou perturbam outras pessoas; este tipo de pecado deveria, certamente, ser realçado na Confissão, no arrependimento e no firme propósito de emendar a vida.

O mesmo pode-se dizer de pecados que ameaçam tornar-se hábitos. Ele desejará eliminá-los, porque prejudicam seu caráter e, frequentemente, preparam o caminho para pecados mais graves. Isto vale também de pecados que podem dar escândalos ou levar outros a pecar.

Ninguém acha mais fácil o exame de consciência antes da Confissão do que aquele que, cada noite inclui na sua oração um breve exame de consciência. Para este, a Confissão é simples, porque verificou cada dia suas faltas e seus pecados, e fez um ato de contrição e um propósito para o dia seguinte. Sua Confissão tem sido preparada por um costume diário.

Mesmo uma pessoa que se confessa frequentemente fará bem em examinar mais detalhadamente a consciência antes da Confissão.


B. Para quem se confessou há muito tempo, ou quem poucas vezes se confessa, é importante que faça um exame muito mais cuidadoso da vida passada. De outra forma, provavelmente, esquecerá coisas que aconteceram, e apresentará ao confessor uma exposição incompleta de sua situação moral.

Por isso, terá que examinar cuidadosamente a vida desde a última Confissão. Para isto pode utilizar-se do paradigma oferecido mais adiante.

Se se sentir perplexo com sua vida, e, depois do exame de consciência, ainda não estiver satisfeito com a exposição preparada para a Confissão, agirá mui sabiamente, se pedir ao confessor que o auxilie. Basta que diga: "Padre, faz muito tempo que não me confesso" (aqui diz quanto tempo faz). "Fiz o exame de consciência, mas não sei se me lembro de tudo. Quer ajudar-me para fazer uma boa Confissão?" O sacerdote de bom grado ajudará, e umas poucas perguntas apropriadas revelarão tudo.


C. Pessoas escrupulosas devem, quanto ao exame de consciência, fazer exatamente o que seu confessor habitual lhes manda fazer. Se lhes foi dito que não façam exame nenhum, obedeçam. Se lhes foi dito que não repitam na Confissão pecados da vida passada ou pecados mencionados anteriormente, façam o que lhes foi ordenado, mesmo se desejassem acusá-los de novo ou se sentissem pouco satisfeitas com tal conselho. "Obedeça ao teu confessor!" Esta é a primeira e última regra para escrupulosos. Uma pessoa escrupulosa nunca deve inquietar-se com pecados duvidosos.


2. PARADIGMAS.

Não pretendemos dar um questionário completo sobre os pecados. Traçamos apenas linhas gerais que guiarão normalmente uma pessoa a um rápido e fácil conhecimento de seus pecados.

Se houver qualquer coisa que está fora destas linhas gerais, ou se houver qualquer problema que alguém não entende, o recurso mais simples consiste em expor o caso ao confessor: "Há ainda uma coisa que não está clara".

Mas, geralmente, esta simples série de perguntas e sugestões deveria trazer à luz da memória do penitente tudo quanto poderia ser matéria para a Confissão.

1. Qual tem sido o meu maior pecado desde a última Confissão? Tornou-se este pecado um hábito para mim? É uma coisa que acontece frequentemente em minha vida? 


Tal pecado estará, geralmente, fundamentado numa real fraqueza de caráter. É o pecado que mais perigosamente se interpõe entre mim e minha salvação.  

2. Qual tem sido a minha atitude para com Deus? Creio n'Ele e trato de amá-lO e de confiar n'Ele? Assisti fielmente à Santa Missa? Honrei a Deus com minhas orações e meus serviços? Tenho um sincero respeito para com Seus mandamentos? Sou leal à Igreja Católica e às suas leis? Tenho observado os dias de jejum e abstinência prescritos?  


3. Qual tem sido a minha conduta pessoal? Tenho sido limpo e decente? Tenho me precavido contra pecados em pensamentos e desejos? Aceitei como verdade as coisas que Deus revelou, e a Igreja ensinou? Tenho me mostrado orgulhoso no trato com outros e tenho me gabado de dons pessoais? Tenho sido temperado no uso de comida e bebida;  


4. Qual tem sido a minha conduta para com outros? Tenho sido honesto nos meus negócios com eles, e respeitado seus direitos e propriedades? Mostrei-me cuidadoso quanto a seu bom nome e reputação? Levei, por meu pecado, outros a pecar? Fiz, por palavras ou ações, com que outros tomassem parte em pecados? Tenho brigado com outros, abusado deles ou os prejudicado fisicamente?  


5. Tenho cumprido o meu dever? Cada um de nós tem em seu estado de vida ou profissão deveres para com outros; deveres de pais, de filhos de homens de determinada profissão, de comerciante, de patrão, de empregado. Isto significa que somos devedores de trabalho honesto, bondade, procedimento justo, caridade para com outros que dependem de nós quanto à sua felicidade ou serviços. Como agí sob tal ponto de vista?


3. ATO DE CONTRICÃO.
  

Por mais completa que seja a Confissão, por mais exata a relação dos pecados, se falta o arrependimento, melhor fôra se a Confissão não fosse feita.

Daí a necessidade de expressar perante Deus a nossa mágoa, o nosso arrependimento profundo por causa dos pecados do passado, e a necessidade da determinação de não cometê-los de novo.

É provável que, durante a Confissão, o padre diga: "Faça um bom ato de contrição". Se o arrependimento for formulado nesta ocasião, é o quanto basta.  Quem, porém, deseja estar certo de uma boa Confissão, faz o ato de contrição antes de entrar no confessionário. Diz a Deus, com toda a sinceridade, que está arrependido de seus pecados. Manifesta ao bom e generoso Deus sua vergonha e mágoa por causa do seu passado.

Este arrependimento deve ser sobrenatural. Isto quer dizer que a pessoa não pode estar arrependida meramente por causa de alguma triste consequência sofrida aqui na Terra por causa do pecado. Não basta estar arrependido dos pecados porque causam doenças ou porque trazem consigo fracasso nos negócios, desgraça perante os amigos, miséria para a família, ou semelhantes consequências infelizes. O arrependimento deve ter alguma relação direta com o que o pecado tenta fazer a Deus, com o que fez a Jesus, na sua Paixão e Morte, ou com os efeitos eternos que terá na alma, pelas penas do Inferno ou a perda do Céu. A lembrança dos sofrimentos do Purgatório é suficiente arrependimento por pecados veniais cometidos.

Tal tristeza ou arrependimento podem ser expressados com palavras próprias, por meio de uma fórmula, ou pelo clássico ato de contrição que quase todos os católicos aprendem quando crianças. Nem é necessário revestir este arrependimento de palavra, desde que venha de coração e seja realmente sincero.

Tampouco é preciso que o arrependimento seja sentido assim que provoque lágrimas, torne o penitente envilecido a seus olhos e indignado contra si mesmo. O arrependimento está principalmente na inteligência e na vontade: a inteligência vê com toda clareza a natureza horrível do pecado e as suas consequências; a vontade resolve expulsar o pecado e não pecar outra vez, com a ajuda de Deus. Sentimentos podem acompanhar o arrependimento; eles não são necessários para arrepender-se.

O arrependimento pode ser:

A. Imperfeito. Tal arrependimento é provocado pelo medo do Inferno ou por verificar que perdemos o céu.

Este arrependimento é suficiente para uma boa Confissão.

O penitente pode dizer simples e sinceramente: "Ó meu Deus, não quero ir ao inferno. Sei que por causa dos meus pecados mereço ir para lá. Por favor, perdoai-me. Ajudai-me para que me livre dos meus pecados. Não quero perder minha alma, sofrer a pena eterna e a perda de toda felicidade".

Ou: "Meu Deus, estou vendo que perdi o direito ao Céu. Vós queríeis que eu fosse feliz conVosco na alegria eterna. Por causa dos meus pecados já não tenho direito a esta alegria. Perdoai-me. Restituí-me o direito ao Céu. Peço-vos, tirai-me os meus pecados".


B. Perfeito. Natural e obviamente, tal arrependimento é muito mais nobre do que o arrependimento que provém do medo do inferno ou do reconhecimento da perda do Céu. O homem dá-se conta de como Deus é bom, e horrível é o pecado. E por causa da beleza de Deus e de sua amabilidade e bondade, odiamos o pecado e desejamos livrar-nos dele.

"Se alguém me amar a mim, meu Pai amá-lo-á, e viremos a Ele, e faremos a nossa mansão nEle", diz Nosso Senhor.

Daí segue que, se não nos for possível a Confissão, este ato de contrição basta para que Deus nos perdoe os nossos pecados. Mas, se mais tarde podemos confessar-nos, devemos dizer os nossos pecados ao sacerdote ao qual, por ser, sob este ponto de vista, sucessor dos Apóstolos, Cristo deu o poder: "Cujos pecados tu perdoares, ser-lhes-ão perdoados: cujos pecados tu retiveres, ser-lhes-ão retidos".

O modo mais simples de alcançar a contrição perfeita é seguir os seguintes degraus:

a. Lembramo-nos quão bom Deus tem sido para conosco, quanto Ele nos tem dado, quão maravilhosas coisas Ele tem feito para nós, quantas vezes Ele nos tem perdoado os nossos pecados no passado, quão bom e generoso Pai tem sido. Então, considerando os nossos pecados, vemos quão abominavelmente egoistas fomos, quão pouco fizemos por Ele; e com uma sensação de vergonha e arrependimento aproximamo-nos a um verdadeiro amor a Ele.  

b. Lembramo-nos do Calvário. Olhamos para Jesus na Cruz e pensamos: "Isto é o que Lhe fizeram os meus pecados. Feriram-nO: fincaram os espinhos em Sua cabeça: impuseram-Lhe nos ombros o peso da Cruz, carregada com os meus vícios; pregaram-nO ao lenho e forçaram a lança a entrar em Seu peito". Estes pensamentos revelam-nos quão bom Deus tem sido: Antes de deixar-nos sentir as consequências de nossos pecados, quis Ele morrer na Cruz por nós. Vemos quão terrível é o pecado, que pode matar o Filho de Deus do modo mais terrível - o homem mais amável que jamais amou seus semelhantes e trabalhou por eles.  


c. Pensamos no que Deus em sua bondade tentou fazer pela Humanidade. Quer que todos os seres humanos sejam Seus filhos; quer torná-los felizes eternamente; deseja ardentemente levá-los ao Paraíso. Mas, pelo pecado, os homens dizem: "Não seremos vossos filhos; não queremos que Vós nos façais felizes; preferimos a coisa suja, chamada pecado, ao Paraíso".  
d. Todos estes pensamentos levam inevitavelmente à consideração de quão bom e Deus em si mesmo, quão amável, belo, infinitamente louvável. Então, veremos, por contraste, os nossos pecados como são: crimes contra o bom Pai, insultos contra o Ser mais belo do mundo; um ataque à Santíssima Trindade, que encerra em si todas as perfeições que apreciamos no mundo - e muito, muito mais.

A fim de exprimir tudo isto, podemos servir-nos da seguinte fórmula:

"O meu Deus, arrependo-me dos meus pecados. Vós tendes sido tão maravilhosamente bom para comigo e, em compensação, eu não Vos tenho dado nada senão o mal e a ingratidão, egoísmo e pecado. Sei que meus pecados pregaram Jesus na Cruz e transformaram Seu corpo numa só e terrível chaga mortal; fui eu que Vos matei, meu Deus, com meus pecados. Sempre, meu bom Deus, tentastes fazer feliz o mundo, levar todos os homens ao Céu; mas os pecados, meus pecados, estragaram o Vosso plano, destruíram a Vossa obra, frustraram os Vossos desejos de ver-nos felizes. Ó meu Deus, Santíssima Trindade: Pai bondoso, Filho que morrestes por mim, Espírito Santo que desejais viver em minha alma, Vós sois tão bom. Em Vós acha-se encerrada toda a beleza do mundo inteiro, toda a bondade que admiramos nos maiores dos mortais, toda a misericórdia e toda a perfeição elevada à altura divina. E o pecado faz-Vos guerra, levanta a mão contra a Vossa bondade, perturba o Vossos planos, impede-Vos de tornar feliz a Humanidade. Estou arrependido. Amo-Vos por tudo quanto sois e por tudo quanto tendes feito. Nunca permitais que, com meus pecados, trabalhe contra vós."


4. O FIRME PROPÓSITO DE EMENDA.

Este também é essencial para uma boa Confissão.

Se uma pessoa quer continuar com seus pecados, certamente não está arrependida deles. Se alguém realmente odeia seus pecados e teme suas consequências, está decidido a não cometê-los de novo. Pedindo desculpa a um amigo, você quer dizer: "Desculpe; pode estar certo que não farei isto outra vez". Precisamente a mesma coisa deve dar-se quando pedimos desculpa a Deus.

Um firme propósito de emenda, portanto, significa:

a. Estou tão arrependido de meus pecados que...
b. Com a ajuda da graça de Deus e enquanto eu posso ...
c. Não cometerei de novo estes ou quaisquer outros pecados...

Devemos notar que tal propósito pode ser firme mesmo quando, pela experiência do passado, sabemos que seremos tentados de novo. Até podemos ter um hábito de pecar que, por nos ter vencido tantas vezes no passado, tememos pensar no futuro. Contudo, estamos arrependidos. Pomos nossa confiança em Deus. Estamos resolvidos a fazer tudo quanto podemos para não pecar outra vez. Pedimos auxílio. E sabemos que Deus está pronto a ajudar-nos.

O lado prático, entretanto, deste propósito é principalmente a resolução de não atirar-nos para a tentação.  


  • Certa gente costuma levar-nos ao pecado: evitaremos esta gente; talvez — se isto for necessário — cortaremos as relações com eles. 
  • Se olharmos para certos quadros ou estampas, lermos certos livros, formos a certos lugares, pecaremos. Pois bem, tais quadros, livros, lugares estão eliminados. 
  • Se uma determinada espécie de trabalho nos leva sempre a pecar, tal trabalho não é para nós. 
  • Se julgarmos certo tipo de divertimento seriamente pecaminoso, não continuaremos com ele. 
  • Se certa conduta sempre nos leva a pecar, não arriscaremos tal conduta.

Tudo isto pertence ao que chamamos ocasião para o pecado. Estas ocasiões serão diferentes para pessoas diferentes. Nossa experiência própria com o que nos tem levado a pecar nos indicará ao mais certo nestas ocasiões. Há homens que não podem beber um só copo de cerveja sem ficarem totalmente bêbedos. Há tal outro que não pode permitir-se a mínima liberdade com uma mulher sem precipitar-se no pecado. Mais outro conhece seu fraco pelo dinheiro, sabe que não pode manejá-lo sem furtar. Há homens para os quais a bebida não é tentação nenhuma, que não se interessam por mulheres, que merecem confiança absoluta tratando-se de dinheiro.

Assim, as ocasiões de pecar são diferentes para cada um. O que me leva a mim a pecar, o que me levou a mim a pecar no passado: isto devo eu evitar.  


Se não quero ou, pelo menos, não tento bem seriamente evitar os pecados, não estou realmente arrependido. Talvez esteja envergonhado ou com medo por causa deles, mas não estou firmemente resolvido a evitá-los.

Às vezes, torna-se necessária a restituição, em caso de pecados mortais. Se alguém furtou dinheiro, deve estar determinado a devolvê-lo.

a. Geralmente, dinheiro roubado deve ser restituído à pessoa a quem foi roubado.
b. Se alguém não souber quem é a pessoa prejudicada ou não pode alcançá-la, o dinheiro pode ser dado aos pobres, a uma instituição caritativa ou à Igreja.
c. Se alguém não puder restituir o dinheiro sem se trair, pode mandá-lo sem indicar o nome. Se a pessoa da qual se furtou o dinheiro for rica ou da intimidade da pessoa culpada, e a restituição viria a trair o ladrão, o penitente pode dar o dinheiro aos pobres ou para fins caritativos.
d. Se o ladrão já não tiver o dinheiro, pode devolvê-lo quando lhe for possível. Às vezes, o dinheiro pode ser restituído sob a forma de trabalho extra, prestado em favor da pessoa lesada.

Restituição de outra espécie deve ser feita quando alguém roubou o bom nome de outrem ou arruinou ou prejudicou a boa fama dele. Deve dizer a verdade, ou deve reparar o prejuízo, quando o que disse era a verdade.

Uma mentira que causou prejuízo, e que pode ser corrigida, exige também satisfação.


5. A CONFISSÃO

Agiremos mui sabiamente se pensamos breve, mas clara e vivamente, no que vamos dizer ao fazer a Confissão.

A. A Confissão é o amável modo de Deus mostrar compaixão. 


B. O sacerdote é meramente o representante de Cristo, que não ousará contar o que nós lhe dizemos, que, provavelmente, já antes tem ouvido histórias como a nossa, que é geralmente bondoso e paciente, que deseja ajudar-nos, que está feliz quando tem uma oportunidade de levar grandes pecadores de volta a Deus.  


C. Podemos ver atrás do sacerdote a figura de Jesus Cristo que com um sorriso nos encoraja. Ele nos ama. Ele quer que sejamos Seus amigos. Ele gosta quando nos confessamos.

Fórmula: Quando o sacerdote está pronto para ouvir a Confissão, sem esperar que ele fale — embora geralmente possamos ouví-lo dando-nos a benção inicial — dizemos:  


A. "Padre, dai-me a vossa benção, porque pequei."  


B. "Há ... (número de dias, semanas, meses) desde a minha última Confissão".  Esta indicação é de grande valor para o sacerdote, pois possibilita-lhe julgar se os pecados que confessamos são hábitos. Assim três pensamentos impuros, voluntariamente entretidos durante um dia ou uma semana, seriam um hábito; três durante um ano não seriam um hábito.  


Se a nossa última Confissão ou uma das anteriores NÃO foi boa (por causa de falta de arrependimento, por termos calado propositalmente um pecado mortal, por não termos tido a intenção de pôr em ordem o passado, ou por qualquer outra razão séria), a forma usada será diferente. Diremos: "As minhas duas (indicar o número correto) últimas confissões" ou "Minhas confissões durante o ano passado (ou ... anos passados)" ou "as minhas confissões desde a minha primeira Comunhão não foram bem feitas, porque (diga a razão) calei um pecado grave na Confissão... não estava arrependido... não tinha vontade de romper com o pecado"


Em tal caso, o sacerdote provavelmente interromperá logo o penitente a fim de ajudá-lo.  


C. "Desde então acuso-me dos seguintes pecados:...". O penitente diz então a espécie (ou as espécies) dos pecados mortais que cometeu, acrescentando quantas vezes os cometeu. Espécie e número devem ser mencionados somente quando se trata de pecados mortais.  


D. Depois de ter confessado todos os pecados mortais e os pecados veniais que quis dizer, ele usa esta ou semelhante formula:  

"Destes pecados e de todos os que talvez tenha cometido e dos quais não me posso lembrar agora, peço humildemente perdão a Deus e a vossa absolvição, especialmente destes pecados de minha vida passada".

Então menciona alguns pecados do passado:

1° Para aumentar o arrependimento.
2° Para apresentar aqueles pecados outra vez à Misericórdia Divina, caso se devesse ainda alguma pena do Purgatório por causa deles.
3° Para precaver-se contra a sua repetição no futuro.

O penitente agora escuta atentamente, enquanto o sacerdote lhe dá os conselhos necessários, faz qualquer pergunta que julgue importante para tornar completa a Confissão e indica a penitência.

O católico instruído sabe que o padre não está pesquisando curiosamente, quando faz perguntas. É simplesmente o melhor modo de ajudar o penitente a fazer a Confissão tão perfeita quanto possível, e de socorrê-lo nas suas lutas futuras contra o pecado.  


E. Enquanto o sacerdote esta dando a absolvição, o penitente diz mais uma vez a Deus que esta arrependido, usando uma fórmula costumada ou falando simplesmente assim como lhe vem do coração.


6. DEPOIS DA CONFISSÃO

A penitência é uma parte essencial da Confissão. Por isto, o homem prudente reza-a logo. Deixar de cumprir deliberadamente a penitência imposta por um pecado mortal é por sua vez pecado mortal. Esquecer a penitência não torna inválida a Confissão. Mas por que as orações impostas como penitência fazem parte de todo o Sacramento da Penitência, elas têm um valor especial para remover as penas do Purgatório merecidas pelos pecados.

Nestes tempos modernos, as penitências são relativamente leves. No passado, foram, às vezes, extremamente pesadas, durando em alguns caso longos anos.

Quando a absolvição for dada, o penitente brevemente agradece a Deus pela graça da Confissão, renova a promessa de levar vida melhor e volta às suas ocupações regulares.


CONCLUSÃO


Que modo melhor, mais bondoso, mais eficiente de ajudar ao pecador poderia Deus ter designado do que o sacramento da Confissão?

Por isto, o católico bem instruído considera privilégio ir frequentemente confessar-se. Ele o considera um precioso e seguro modo de voltar a Deus depois do pecado, um meio de aliviar uma consciência perturbada, e de obter o conselho experimentado e a direção de um confessor treinado; uma preparação para sua Confissão final, que ele fará como uma das partes dos últimos sacramentos antes de morrer.
  





Editora O Mariano, Florianópolis, SC, 1950, 2ª edição, 42 pág.
Adquirido de Casa Aberta, Livraria Alternativa – pela Estante Virtual – 2009.
Transcrito e revisado por Giulia d'Amore. 




http://minhateca.com.br/paleideas/Documentos/BLOG/TU+E+A+CONFISS*c3*83O(1),63950154.pdf


  
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