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quarta-feira, 5 de março de 2014

Liturgia: Quarta-feira de Cinzas

Da cerimônia das Cinzas tira o nome o primeiro dia da Quaresma. As cinzas são símbolo de penitência, tanto no Antigo Testamento como na lei nova (Jó Cap. XLII, Judith cap. LXXXIV, Esther cap. II, Math. cap. XI e S. Ambrósio I. I ad virginem lapsam.).

Memento, homo, quia pulvis es, et in pulvem revertéris; lembra-te, homem, que és pó, e em pó retornarás; assim falou Deus ao primeiro homem, na hora da sua desobediência, e assim repete a Igreja a cada qual de nós, por boca de seus ministros, na cerimônia de hoje. Palavras de maldição na boca de Deus, pondera o mais célebre dos oradores cristãos; palavras, porém, de graça e salvação na mente da Igreja, que no-las dirige. Palavras de espanto e terror para o pecador, fulminando-lhe a sua sentença irrevogável de morte, são palavras de suavidade e animação para o penitente, a quem, diz S. João Crisóstomo, ensinam o caminho da penitência e conversão.

Tomai um punhado de cinzas, disse Deus a Moisés e a Aarão, e atirai-as sobre o povo. Esta cinza foi assim espalhada, diz a Sagrada Escritura, como a semente dos flagelos do Egito, que em toda essa região causaram tão universal desolação.

Mui diverso deve ser o efeito da cinza hoje lançada sobre nossas cabeças pelos sacerdotes, que será aplacar a cólera do Senhor, e valer-nos as suas graças e favores, excitando em nossos corações sentimentos de verdadeira penitência.

Tal é o sentido das orações da Igreja, na bênção das cinzas, que nos ensinam com que espírito religioso devemos recebê-las. 




Missa de quarta-feira de Cinzas

 Bênção e imposição das Cinzas



A cerimônia realiza-se antes da missa. Celebrante e ministros dirigem-se ao altar, e começa-se pela antífona seguinte:

 
ANTÍFONA (Salmo 68,17,2) – Ouvi-nos, Senhor, porque é cheia de bondade a vossa misericórdia; e olhai para nós com a vossa infinita compaixão. Sl. Salvai-me, Senhor, porque a tentação invadiu a minha alma como as águas impetuosas de uma inundação. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. — Ouvi-nos, Senhor.


Depois o celebrante benze as cinzas:

Oração – Eterno Deus Onipotente, continua o Padre, tornai-vos propício aos que vos rogam com sinceridade; perdoai aos pecadores arrependidos. Dignai-vos enviar vosso santo Anjo lá de cima, e benzer e santificar estas cinzas; que sejam remédio salutar para quantos invocam vosso santo nome com humildade e contrição, confessando publicamente que são pecadores, e, possuídos de vivo pesar das suas ofensas, prostram-se hoje em vossa presença, implorando vossa misericórdia infinita. Concedei a todos que receberem estas cinzas na cabeça invocando vosso Nome santíssimo, além do perdão dos pecados, a saúde do corpo e da alma, por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Ó Deus que não quereis a morte dos pecadores, mas a sua conversão, lançai um olhar benigno sobre a fragilidade da natureza humana, e dignai-vos abençoar estas cinzas que vão ser impostas sobre nossas cabeças, em sinal de humildade de nossos corações e do perdão que esperamos; para que, reconhecendo que somos cinzas, e que em pó nos havemos de tornar, em castigo de nossas iniquidades, mereçamos alcançar de vossa misericórdia a remissão de nossos pecados, e a recompensa que prometestes aos que fazem penitência. Por J. C. N. S. Amém. 


Onipotente e sempiterno Deus, que concedestes a remissão de seus pecados aos Ninivitas, que fizeram penitência na cinza e cilício, fazei que imitando-os alcancemos, como eles, o perdão de nossos pecados. Por J. C. N. S.

O celebrante asperge e incensa as cinzas. A seguir impõe-nas, primeiramente ao clero, depois aos fiéis, dizendo:

Lembra-te, ó homem, que és pó, e que em pó te hás de tornar. (Gênesis 3,19)


Remata a Igreja esta bênção das Cinzas exortando aos fiéis, com as expressões patéticas de Joel (c. II), a que tornem útil e eficaz esta cerimônia.


Reformemo-nos exteriormente com a modéstia do traje, na cinza, no cilício; jejuemos com o sentimento de sincera contrição, emendemos as culpas de nossa ignorância ou fraqueza, e mormente da nossa malícia, sem mais adiar nem esperar, que a morte nos pode apanhar desprevenidos.


Estação em Santa Sabina.

INTROITO (Sabedoria 11,24-27) – Senhor, Vós tendes compaixão de todos, e nada do que criaste Vos desgosta. Dissimulais os pecados dos homens, para que façam penitência e lhes perdoeis: porque Vós sois o Senhor nosso Deus. Sl. 56,2. Tende compaixão de mim, Senhor, tende compaixão de mim, porque a minha alma confia em Vós. Glória ao Pai.

COLETA – Fazei, Senhor, que os vossos fiéis entrem com a conveniente piedade nesta venerável solenidade dos jejuns, e a levem ao fim com devoção sincera. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Não se faz nenhuma comemoração.


EPÍSTOLA (Joel 2,12-19)

Eis aqui o que diz o Senhor: Convertei-vos a Mim com todo o vosso coração, em jejum, em choro, e em pranto; rasgai vossos corações e não vossos vestidos; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque é piedoso e compassivo, longânime e de muita benignidade, e se arrepende do castigo. Quem sabe se Ele se volverá e vos perdoará, e deixará após si uma benção, para que apresenteis sacrifícios e ofertas ao Senhor vosso Deus? Tocai a buzina em Sião, santificai um jejum, convocai a assembleia, congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, e reuni os pequeninos e os que mamam ainda; sai o noivo de sua recâmara, e a noiva de seu tálamo. Entre o vestíbulo e o altar chorarão os sacerdotes, ministros do Senhor, e dirão: Perdoa Senhor, perdoa ao teu povo, e não entregues tua herança ao opróbrio de serem por estanhas nações dominados. Porque entre os povos diriam: Onde está o seu Deus? O Senhor zelará sua terra e perdoará a seu povo. E responderá o Senhor, e dirá ao seu povo: Eis que vos envio trigo, vinho, e azeite, e deles sereis fartos, e não mais vos entregarei ao opróbrio entre as gentes, diz o Senhor Onipotente.



Comentário da Epístola in "Manual do Cristão", de Goffiné

Usavam muito, outrora, rasgar as roupas no luto e no assomo da aflição, como vemos em muitos passos das Sagradas Escrituras. Mas estas demonstrações duvidosas de conversão, de dor e de pesar não bastam para Deus; exige a conversão sincera, a dor interna de um coração humilhado, arrependido, a reforma dos costumes, dignos frutos de penitência.


Podiam muito facilmente apoderar-se da Judéia os inimigos dos Judeus, no tempo em que fala o Profeta; que poderia fazer contra um exército de Assírios e Caldeus o povo abatido de terror e exausto por horrenda fome? Por isso o Profeta chama os ministros do Senhor a conjura-lo que não entregue seu povo aos estrangeiros, com medo que venham estes a blasfemar o Deus de Israel, acusando-o de fraco ou de impiedoso por entregar seu povo à mercê dos inimigos. Em seguida, da exortação à penitência, anuncia ao povo que Deus lhe ouviu o pranto, viu suas lágrimas e lhe perdoou. E com o perdão deu-lhe benção copiosa, seguida de todas as prosperidades.

Assim desarma a Deus a penitência, e nos restitui a paz e a ventura.
(GOFFINÉ, vide in fine).

GRADUAL (Salmo 56.2,4) – Tende compaixão de mim, Senhor, tende compaixão de mim, porque a minha alma confia em Vós. Veio do Céu, e libertou-me; e condenou ao opróbrio os que me espezinhavam.

TRATO (Salmos 102,10; 78.8-9) – Senhor, não nos trateis conforme merecem os pecados que fizemos, nem segundo a ignomínia das nossas iniquidades. Senhor, não Vos lembreis dos nossos crimes passados, mas mandai-nos a vossa misericórdia, porque somos muito pobres, Senhor. (Aqui ajoelham todos.) Ajudai-nos, ó Deus, nossa salvação; e livrai-nos, Senhor, que assim o pede a glória do vosso nome. Pelo vosso nome, sede indulgente com os nossos pecados. 




EVANGELHO (S. Mateus 6,16-21)

 

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: quando jejuardes, não vos mostreis tristes como os hipócritas que afetam semblante desfigurado para fazer ver aos homens que jejuam. Na verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas tu, quando jejuares, unge tua cabeça e lava o rosto para não dares a conhecer que jejuas, se não a teu Pai que está presente ao que é oculto, e teu Pai que vê o que é oculto te dará a recompensa. Não ajunteis tesouros na terra onde a ferrugem e a traça os consomem, onde ladrões os desenterram e furtam. Ajuntai, porém, vossos tesouros no Céu, onde nem a ferrugem nem os vermes os consomem e onde ladrões não desenterram nem furtam. Porque onde está o tesouro, aí também está o coração. 


Comentários do Evangelho in "Manual do Cristão", de Goffiné

Quando jejuamos, apresentamos semblante alegre e satisfeito: não vão pensar que é só tristeza e melancolia a obra de nossa salvação. Conhecedor da insignificância das suas austeridades, o verdadeiro penitente não quer perder-lhes o merecimento fazendo delas ostentação.


Prescreve-nos o Divino Mestre, juntamente com o jejum, o desapego dos bens terrestres.

Pouco caso faz o justo dos bens presentes; trabalha só pelo céu, onde está seu tesouro e, portanto, seu coração.

Oh! Que prudente e que ditoso quem a nada se prende neste mundo, onde é estrangeiro, mandando todo o fruto de seu trabalho para o Céu, sua verdadeira e eterna pátria!
(GOFFINÉ, vide in fine).

OFERTÓRIO (Salmo 29,2-3) – Louvar-Vos-ei, Senhor, porque me tomastes sob a vossa proteção, e não deixastes que os inimigos motejassem de mim. Senhor, gritei por vós, e curastes-me.

SECRETA – Fazei, Senhor, que Vos ofereçamos, devidamente dispostos, estes dons, com os quais celebramos o exórdio da mesma venerável instituição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Prefácio da Quaresma até ao sábado anterior ao domingo da Paixão.

COMUNHÃO (Salmo 1,2-3) – Aquele que medita dia e noite na lei do Senhor, dará a seu tempo fruto abundante.

DEPOIS DA COMUNHÃO – Fazei, Senhor, que a recepção desse sacramento Vos torne agradável o nosso jejum, e o faça redundar na cura dos nossos males. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

ORAÇÃO – Oremos. Curvai as vossas cabeças diante de Deus.
Dignai-Vos olhar, Senhor, com bondade, aqueles que se humilham na vossa presença, e fazei que, reanimados com estes dons divinos, se alimentem sempre com o socorro celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Extraído do Manual do Cristão, de Goffiné, in Quarta Feira de Cinzas. Sacristia da Imaculada Conceição,15ª edição, 225º milheiro, RJ, 1944, pp. 341-345. E, também, da web, em algumas partes.

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