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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Bergoglio, Twitter & followers

Mais um belo texto de Gnocchi e Palmaro. Certamente pesa, agora, a perseguição que passaram a sofrer por ter ousado criticar o novo "queridinho" do mundo, mas não mentem, não são desonestos. Vale a pena ler e refletir a respeito. 




Papa Inocêncio III (1161-1216), Lottario dos Condes de Segni, foi o mais poderoso Soberano da Igreja que a história da Cristandade conheça: para ele, Igreja e Império não eram que dois aspectos complementares do mesmo mandato divino.

Papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio, através dos meios de comunicação global, está se tornando o mais famoso personagem de todo o mundo contemporâneo e virtual, da forma como o revelam Gnocchi e Palmaro em seu artigo realista e permeado de católica amargura, que apareceu em “il Foglio” de ontem, e que aqui apresentamos. Francisco alcançou dez milhões de seguidores no Twitter, ou seja, dez milhões de fãs. Além disso, milhões de pessoas clicam em “curtir” Bergoglio no Facebook. Milhões de pessoas entram em chats, de um continente para outro, para dizer: “Viva Papa Francesco”... Mas tudo isso é goliardo[1], como o foi o “Flash Mob” dos 1.200 bispos em Copacabana[2], durante a Jornada Mundial da Juventude neste verão: esta é a era dos grandes jograles[3] (do provençal-occitano “joglar”, que, por sua vez, deriva do lema latino “iocularis”), não só políticos, mas também religiosos.


Inocêncio III, grande em cultura, gênio político e profundamente religioso, tinha nas mãos um mundo real e não virtual; todavia, um dia, diante dele se apresenta Francisco de Assis, que o povo chamavam de “jogral de Deus”[4]. O Sumo Pontífice já o tinha visto uma noite, em sonho, quando lhe apareceu uma Igreja que estava prestes a ruir por causa das heresias rampantes e dos pecados; porém a ampará-la e a salvá-la não era o Papa[5], mas manso e humílimo homem ignoto, vestido de sacos, que agora se ajoelha diante dele para pedir-lhe autorização para viver a própria pobreza de Cristo e dos Apóstolos, e para anunciar às gentes o Evangelho da conversão.
Cristina Siccardi


* * *


O HOSPITAL DE CAMPANHA DOS FOLLOWERS



Quanto custa a tentação de um Cristianismo sem esforço e sem
Sacrifício, na Igreja que conta os próprios seguidores no Twitter. Mas, uma
Coisa é unir-se ao Corpo de Cristo, outra é sentir-se parte da comunidade.

Alessandro Gnocchi e Mario Palmaro


Não precisa ser tão velho para se ter uma ideia sobre o que fosse um “Cronicon”, e talvez até mesmo para ter dado uma olhada nisso. Era o diário em que cada sacerdote anotava os fatos marcantes da paróquia que lhe tinha sido confiada para que tomasse conta. Alguns brilhavam como pequenas joias literárias, porque os velhos padres, terminado o breviário, não iam se postar diante da TV, do Facebook ou do Twitter. Rezavam, estudavam, liam e, se tinham talento para escrever, davam vazão às pequenas crônicas cotidianas de seu rebanho. De qualquer maneira, cada um a seu modo, transmitiam a memória do memorável, entre as quais não deixavam de anotar quantas comunhões haviam distribuídos.

Hoje, no entanto, se faz o levantamento dos seguidores do Twitter. Mas uma coisa é contar as comunhões de um rebanho do qual se conhece ovelhas por ovelha, e outra coisa bem diferente é contar os cliques de um universo desconhecido. Uma coisa é unir-se ao Corpo Místico de Cristo, alimentando-se de sua Carne e de seu Sangue, e outra é sentir-se parte de uma comunidade sem a necessidade de mostrar o próprio corpo.

A ênfase acerca dos dez milhões de seguidores no Twitter angariados pelo Papa Francesco não contribui a manter separados os planos. Pelo contrário, acaba por substituir o conceito de conversão com aquele do sucesso, o único que o mundo é capaz de entender e promover[6]. Os meios de comunicação, que são mundanos por natureza, não se podem dar ao luxo de tratar mercadorias que deem trabalho, como a mudança radical de vida. Tudo tem que ser fácil e acessível a todos: se a Igreja Católica quer estar presente nesse meio, deve se tornar um fenômeno que possa ser tratado como todos os outros. A paz midiática não se estende para além das fronteiras e das leis da midiasfera.

Mas a ideia de que ao católico seja permitido ter uma relação pacificada com o mundo é uma ilusão que sequer pode se definir piedosa. Baseia-se na convicção de que não existiria uma hostilidade mundana contra Cristo. Ao contrário, o mundo estaria à espera do anúncio do Evangelho que, até hoje, a inadequação da Igreja e de sua Tradição havia tornado impossível. Este equívoco decorre da superação da clássica distinção de dois conceitos de mundo que convivem em todos os Evangelhos e na Tradição. Há um mundo objeto do amor de Deus, que deve ser amado pelo cristão. Mas há também a palavra ‘mundo’ usada por Cristo para indicar o reino do inimigo, que tem no anjo rebelde o seu príncipe incontestado. Um catolicismo que se esqueça desta natureza do mundo já não é mais, estritamente falando, um verdadeiro Catolicismo. Torna-se uma religião da “boa vontade”, destinada a se dissolver na TV de forma indolor, perfeita para um horário nobre de grande audiência.

O diálogo da Igreja com o mundo de que tanto se fala hoje em dia”, escrevia o dominicano Roger Thomas Calmel, em 1967, “nunca poderá ser o de dois interlocutores em condições de igualdade, de qualquer maneira se entenda o mundo. As primeiras coisas que chamam a atenção no encontro entre a Igreja e o mundo são a transcendência da Igreja e a sua irredutibilidade (...). Segue-se, então, que o encontro da Igreja com o mundo nunca poderá se assemelhar àquele entre dois corteses camaradas que iniciam um diálogo de igual para igual, em uma noite de verão, sob as árvores de um jardim público. O único encontro autêntico e salutar da Igreja com o mundo é aquele dos confessores sem mancha, dos doutores inflexíveis, das virgens fiéis e dos mártires invencíveis, cobertos pela túnica escarlate banhada no sangue do Cordeiro (...). Devemos nos separar do mundo quando não podemos fazer o que o mundo quer sem ofender a Cristo”.

Palavras que soam um tanto estranho, especialmente quando se está em vias de criar um hospital de campanha, onde não se pode ser muito exigente. Mas, mesmo quando se presta socorro, ainda mais se o fazemos pelas almas, é preciso tomar cuidado com o lugar onde se levantam as tendas. Nem todos os acampamentos são iguais. A este respeito, nos socorre a doutrina tomista das três cidades. Há a cidade de Deus, a Igreja, essencialmente sobrenatural, sem pecado, embora constituída de pecadores. Sua tarefa fundamental é proclamar o Evangelho, celebrar o Santo Sacrifício, salvar almas. Obviamente, isso não significa que a Igreja não traga benefício também na construção da Civilização, e, portanto, não há oposição entre a missão essencial e primária da Igreja, a “salus animarum”, e a promoção de uma civilização mais humana.

A segunda é a cidade de Satanás, composta pelas três concupiscências que o homem traz em si e pela ação de Satanás. Esta cidade é em perene desenvolvimento, e reitera incansavelmente os seus assaltos em dois diferentes níveis. Antes de tudo, no plano religioso, na mais íntima essência do homem, através de seus falsos sacerdotes e dos seus falsos dogmas. E, depois, no plano da sociedade política, onde se empenha em plasmar os costumes, mudar as leis, transformar a autoridade que governa os cidadãos.

Finalmente, há a cidade humana, na qual se alternam as culturas e as civilizações que se desenvolvem ao longo dos séculos. Esta cidade tem uma organização, leis, costumes, uma autoridade, que são melhores ou piores dependendo da influência exercida pelas duas cidades perenes. A cidade dos homens entra constantemente na esfera de atração das duas cidades supremas, sofrendo o imperioso avanço do príncipe do mundo. Todavia, a cidade de Satanás nunca será capaz de se impor em todo o território do homem. Em alguma igrejinha remota haverá sempre um sacerdote que celebre santamente a Missa; em um apartamentinho, uma velhinha solitária debulhará sempre com fé inabalável o seu rosário; em um canto escondido do Cotolengo, uma freira sempre cuidará de uma criança considerada, por todos, uma vida sem valor. Mesmo quando tudo parece perdido, a Igreja, cidade de Deus, continua a irradiar sobre a dos homens a sua luz.

Um católico crescido à sombra desta doutrina, simples e eficaz, deveria saber que a perseguição do mundo contra a Igreja é injusta, mas não é irracional. Pelo contrário, é justamente a pacificação que resulta impossível. A razão não é outra que a incessante, dramática e universal exigência de nos uniformarmos ao Homem da Cruz: uma afronta imperdoável e um pedido incompreensível para o orgulhoso mundo moderno.

Mas, se isto também continua a ser natureza da Igreja, não se pode dizer que a tarefa tenha sido realizada com eficácia. É no mínimo fundado o temor de que o número de seguidores do Twitter seja inversamente proporcional à força e à clareza da mensagem. Uma rigorosa pregação dos Novíssimos, uma sinistra descrição de um Inferno longe de estar vazio, a dolorosa via mestra que passa pela porta estreita, a aspereza do dogma, o rigor da razão, não parecem tema para tantos cliques de aprovação[7]. Católicos, diversamente crentes e não-crentes preferem de longe entreter-se com uma ideia jocosa da misericórdia, quase que cada um pudesse continuar a ser como é e a fazer o que faz, sem que nunca lhe seja questionado nada[8]. Tal concepção de misericórdia pode aquecer o coração de um Dom Rodrigo, não certamente o do Inominável[9]. E é certamente mais tuitável do que, por exemplo, aquela que ensinava Padre Pio quando dizia: “Eu tenho mais medo da misericórdia de Deus que de sua justiça. A justiça de Deus é conhecida: sabemos quais são as leis que a governam, e, se um homem peca e ofende a justiça divina, pode apelar à misericórdia, mas, se abusa da misericórdia, a quem recorreria?” Entretanto, não se pode dizer que o Padre Pio não tivesse um séquito. Mas o consenso caminhava por outras estradas em relação às da rede. Quem acompanha o sofredor aprende a sofrer; quem acompanha o blogger, aprende a blogar.

A tentação de um cristianismo fácil, sem esforços e sem sacrifícios, parece feita sob medida para homens fabricados[10], criados em um mundo no qual também o outro pilar da formação, a escola, tem sido minado há décadas. O Raio-X perfeito deste outro desastre se encontra em “Togliamo il disturbo[11], onde Paola Mastrocola examina o “donmilanismo[12], que tem sua pedra angular na “Carta a uma Professora” do sacerdote de Barbiana[13]. “A mais terrível ideia, em minha opinião, está no final [do livro]. O livro termina com um sonho, o sonho de professores novos e democratas, que, finalmente, digam a seus alunos: ‘De Pedagogia, perguntaremos apenas sobre Gianni. De Italiano, pediremos para nos contar como fizeram para escrever esta bela carta. De Latim, alguma palavra antiga que vosso avô costuma dizer. De Geografia, sobre a vida dos campesinos ingleses. De História, os motivos pelos quais os montanheses descem à planície. De Ciências, nos falareis dos sarmentos[14] e nos direis o nome da arvore que produz cerejas”[15]. Ou seja, deixar as pessoas como são! Cada um fique com as ‘noções’ que já possui, que lhes vêm da família em que nasceu: cada um tenha, portanto, a vida que a sorte já lhe deu. Quer dizer uma escola que não acrescenta, não eleva, não desafia. Mas se adequa, se faz igual, se camufla. E, inevitavelmente, se rebaixa. E assim penaliza justamente os mais fracos. Todos rebaixados, mas todos iguais. “Rebaixamento comum é meia alegria?[16]“.

Assim, a retirada do degrau sobre o qual estava a cátedra acabou por desnaturar a normal relação entre mestre e aluno. O “você” que substituiu o “senhor” fez do docente alguém meramente igual ao discente. A desclassificação da linguagem formal para a fala cotidiana levou a alterações no conteúdo ensinado. A ideia de que o ensino e a educação iniciais de todo estudante fossem o bastante conduziu à convicção de bastar a si próprios [autossuficiência] e à negação de qualquer necessidade de melhorar.

Os quatro eixos ao longo dos quais se moveu a devastação da escola são uma réplica da forma, do conteúdo e do método pelos quais a liturgia católica foi reformada[17]. Basta pensar à retirada das balaústras e ao deslocamento dos altares nas naves em forma de simples mesa; ao sacerdote voltado para o povo e não para Deus, na qualidade de simples presidente da assembleia; ao repúdio da língua latina pelo vernáculo; à irrupção da teologia do chamado “mistério pascal” que considera todo homem já salvo definitivamente[18], que se basta e, portanto, está na condição de não ter de adorar a Deus, mas de celebrar a própria festa. Talvez, não seja uma mera coincidência que na origem da revolução na escola, na Itália, haja um padre.

A um mundo que, tanto na vida civil como na religiosa, definha por falta de sacrifício e reverência, devemos restituir Alguém e Algo pelo qual se sacrificar e para reverenciar. Bento XVI havia tentado fazê-lo ao repristinar a Cruz no centro do altar e a comunhão recebida de joelhos e na língua[19]. Não era uma cena digna de um hospital de campanha, mas tocava as almas porque era fruto da conscientização de que o homem é uma criatura racional e, portanto, litúrgica. Uma criatura que, graças aos gestos e às palavras recebidos como dom, e, portanto, irreformáveis, pode se elevar até Deus e escapar do demônio. Nos “Ditos dos Padres do Deserto”[20], se explica como o diabo seja incapaz de conhecer os pensamentos dos homens, porque é de outra natureza, mas que os pode adivinhar observando os movimentos dos corpos. Daqui decorre a importância do comportamento exterior e a veneração que o Catolicismo sempre nutriu por quem realize gestos perfeitos, criando um anel de pureza inviolável e realizando um exorcismo destinado a quem lhe está próximo.

Tudo isso exige esforço, exige disciplina e ascese, pede para deter-se junto à Cruz e satisfazer a justiça divina, cooperando com a Paixão de Jesus. Disso decorre o que há de mais dramático na vida do homem: o pecado entendido antes como ofensa a Deus e somente após como dano às criaturas. Mas se, como ensina a teologia dominante, o homem é salvo pelo simples fato de estar no mundo, se o pecado é desclassificado para mero fato social, se não precisa ajustar a razão a uma verdade envolta no Mistério, o esforço não faz mais sentido.

Após tal mudança de horizonte, a liturgia, “culmen et fons” [ápice e fonte] da vida cristã, assume um significado puramente social, fala do homem ao homem e torna-se um tratado social. Não é por acaso que hoje se gravam e se transmitem, com um ardor até excessivo, as homilias do pontífice, enquanto resvalam para um segundo plano as suas celebrações. É um tique tipicamente moderno. Enquanto antigamente o esplendor da liturgia fazia perceber como uma interrupção quase irritante o tempo de um sermão, por mais breve que fosse, hoje a ênfase que se dá ao discurso faz sentir como que intrusiva qualquer pretensão litúrgica.

A nudez do discurso tem prevalência sobre o velamento do rito. Mas o discurso, por si só, exatamente porque nu, não é capaz de captar o essencial. A condição do homem que perdeu o estado de graça com o pecado de Adão o torna inábil para tal tarefa. O homem, por si só, não é mais capaz de perceber o sentido último das coisas, e, por isso, a liturgia, até o momento em que se rendeu aos encantos dos lumes, sempre o ajudou, revestindo a matéria que tem sob os olhos. O velamento se torna, assim, o sinal visível do nimbo de Graça e santidade que se tornou invisível aos olhos do homem. Não quer ocultar o objeto à vista para torná-lo um segredo. O aspecto material das coisas veladas é conhecido, mas sozinho não diz nada sobre sua natureza ulterior. Quem diz, ao contrário, é o véu que as cobre. E, se o fendemos e do mesmo modo se fendem os outros véus que lhe estão sobrepostos, é outro véu que encontramos: a própria Hóstia, como canta um hino eucarístico muito popular, “Sob os véus que o grão compôs[21].

Talvez seja exatamente desse esplendor, humanamente inútil, que necessita urgentemente um mundo que deixou de usar a inteligência no dia em que perdeu o pudor.




[1] Goliardos, na Idade Média, eram clérigos egressos das universidades, que se tornavam itinerantes (“clerici vagantes”), vagabundos, de espírito transgressivo e provocador. Em meados do século XIII, perambulavam pelas tavernas, portas das universidades e outros lugares públicos, cantando e declamando seus poemas satíricos, um tanto cínicos, ou poemas eróticos, frequentemente muito ousados. A poesia dos goliardos era uma expressão do espírito das tabernas e confrarias imorais. Descritos por Van Woensel (2001, p. 25) como “a ala ‘esquerda’ da corporação clerical”, os goliardos se aproveitavam da formação erudita para compor, algumas vezes na clandestinidade, canções nada edificantes de teor satírico, amoroso e até mesmo licencioso. Na Idade Média existiu também uma vertente goliardesca em Literatura, que teve como expoentes Cecco Angiolieri e Gautier de Châtillon, que também expressavam em seus poemas esse caráter debochado do indivíduo que se dedica aos jogos, às mulheres, aos prazeres mundanos – um personagem que inspirou numerosos gêneros literários. Esta tendência ao amor, ao jogo e ao vinho marcam suas composições poéticas reunidas nos “Carmina Burana”, nos quais à exaltação dos prazeres carnais se associa a crítica à Igreja medieval, que condena os costumes libertinos. “Carmina Burana” é um códice contendo mais de 200 canções profanas compostas por esses artistas, que esmolavam para ganhar a vida. Carl Orff editou, em 1937, parte dessas canções para compor a cantata cênica homônima. A origem da palavra “goliardo” é um tanto obscura e controversa. Possivelmente deriva do francês antigo “goliart”. Na origem, significava “bufão”, e teria adquirido, no século XIII, o sentido de “glutão”, “debochado”. Poderia também derivar de “gole”, “goule” (depois “gueule”, goela), ou do nome de Golias, o gigante bíblico, símbolo dos inimigos da Igreja (que seria simbolizada por David), em razão dos poemas frequentemente anticlericais declamados pelos goliardos. No latim medieval “goliardus”, teria afinal assumido o sentido de “clérigo ou estudante vagabundo”.
[3] Jogral (do provençal “joglar”, substantivação do adjetivo latino “joculáris”/”iocularis”, é: “divertido, burlesco, risível”), na lírica medieval, até o século X, era o artista profissional de origem popular - um vilão, ou seja, não pertencente à nobreza, mas à vila, aldeia - que tanto atuava nas praças públicas, divertindo o público, assim como nos palácios senhoriais, neste caso assumindo o papel de bufão, com suas sátiras, mágicas, acrobacias, mímica, etc.
[4] No original, “Giullare di Dio”.
[5] Sonho interessante... O que diriam os papólatras, para os quais até espirrando um papa é infalível?
[6] Particularmente os protestantes e sua “teologia da prosperidade”.
[7] Conhecendo os internautas como conhecemos, uma maioria feita de “flammers” raivosos e ocos... o que esperar deles?
[8] Essa é a descrição da fé do protestante. Justificado por Cristo, lhe basta viver a vida como sempre fez...
[9] O sentido disso vai ao final da nota, e é familiar ao italiano médio.
Primeiro de dizer que aqui os autores fazem referência a dois personagens de “I Promessi Sposi” (“Os Noivos”), de Alessandro Manzoni, obra prima da Literatura Italiana, o mais famoso e o mais lido romance em língua italiana. Não só foi um marco da literatura, mas também uma passagem fundamental para o nascimento da própria língua italiana moderna. Resumidamente, é a história de um jovem casal que passa por mil peripécias, no panorama histórico do XVII século na Itália, com alguns fatos históricos de fundo, para enfim conseguir se casar.
DOM RODRIGO é o antagonista, um nobre que deseja Lúcia, a protagonista, noiva de Renzo. Orgulhoso, maligno, prepotente, mimado, grosseiro, sarcástico, violento, Dom Rodrigo simboliza os prepotentes e o governo espanhol da época. Sabendo que os jovens iam se casar, Dom Rodrigo aposta com seu primo Atílio que conseguirá exercitar seu “jus primae noctis” (direito à primeira noite) com Lúcia. Para isso, ameaça o cura da aldeia encarregado do casamento, Dom Abbondio, para que não case os jovens. O cura medroso obedece. Depois de uma série de tentativas de contornar o problema, os jovens fogem separadamente, indo se reencontrar apenas quase no final. A longa história é cheia de obstáculos e reviravoltas de tirar o fôlego, com uma série de personagens densos e marcantes. Bem a conheço porque matéria obrigatória das escolas italianas: leitura, interpretação, análise gramatical, sintática etc. Todo italiano deve conhecê-la à perfeição.
O INOMINÁVEL, em um primeiro momento ajuda ao antagonista, mas, depois, por algumas reviravoltas, passa a ajudar aos protagonistas. É uma personagem histórica sobre cuja identidade há algumas suposições (pensa-se se tratar de certo Alberto de Salvirola; outros dizem que seria um ascendente materno de Manzoni, Francesco Bernardino Visconti). Trata-se um nobre, poderoso e fora-da-lei, decidido, inquieto, cruel, introspectivo, sensível. Primeiro violento, depois, por causa do arrependimento, humilde e desejoso de expiação. É chamado de Inominável porque . Lúcia chega em sua vida em um momento de grande angústia espiritual. Na noite que ela passa no castelo, o sofrimento do Inominável chega ao ápice e ele pensa até em tirar a própria vida. Mas é Lúcia que o salva com suas palavras (“Deus perdoa tantas coisa por causa de uma obra de misericórdia”), que lhe mostram o caminho da misericórdia e do perdão. Na manhã seguinte chega à cidade o Cardeal Frederico Borromeu (figura histórica real), homem de grandíssima bondade, que atua na conversão do Inominável. Após uma ultimas dúvidas (“ondeggiamenti dell’anima”), o Inominável chega à aurora da redenção, à palingênese (brusca metamorfose) espiritual e à iluminação da alma corresponde uma iluminação da paisagem em um profundo sentimento religioso da natureza. O céu, os montes, os homens – acompanhados pela música de uma indeterminada esperança vinda do som dos sinos – participam da redenção de uma alma. (Fonte: Wikipédia).
Assim, ao dizerem que essa “concepção de misericórdia pode aquecer o coração de um Dom Rodrigo, não certamente o do Inominável”, querem dizer que é uma misericórdia que não aquece o coração de um cristão de verdade, mas de um farofeiro da fé.
[10] No original: “uomini d’allevamento”. Um neologismo que aqui vem explicado comicamente: “Depois de milhares de anos de evolusão” – sic! – “ vencemos o ‘Homo abilis’ com o nosso Blackbarry, acabamos com o ‘Homo erectus’ com o Viagra e humilhamos o ‘Homo sapien’ na caça com nossos supermercados... Agora nos auto-educamos em grandes magazines tornando-nos semelhantes entre nós e nos exaltamos por uma promoção... não somos dignos nem mesmo de uma adjetivo. Somos ‘Homo’ e basta”. Cf. http://byte-zone.blogspot.com.br/2008/02/uomini-dallevamento.html. Trata-se dos homens fabricados artificialmente, como se cria o gado, de forma padronizada. Há um livro a respeito: “Uomini d’allevamento. Prodotti di qualitá”, de Fabio Trevisan, que, inclusive, foi descrito online por Gnocchi & Palmaro: http://www.fedecultura.com/libro/uomini-d-allevamento-prodotti-di-qualita.
[11] Togliamo il disturbo. Saggio sulla libertà di non studiare (Estamos de saída*. Ensaio sobre a liberdade de não estudar - * é um eufemismo para dizer que se vai embora), de Paola Mastrocola, 2011, trata da atual situação escolástica italiana e das perspectivas futuras dos jovens. O que é um fenômeno mundial.
[12] O “donmilanismo” – de dom Lorenzo Milani, que era padre na cidade de Barbiana, na Itália. Vide próxima nota – foi uma doença infantil do “catocomunismo” (ou catolicismo “de esquerda”), hoje em versão light dos “católicos adultos” ou progressistas ou “teodem” (os “teodem” são uma corrente interna do italiano Partido Democrático, de cunho democrata-cristão, cristão-social e social-conservador). Do ponto de vista da educação escolar, sua ação (e particularmente a “Carta a uma professora”) foi devastadora porque criou uma mentalidade (que ainda perdura) que retira toda responsabilidade do estudante, nivela por baixo e elimina o único elemento capaz de criar igualdade de oportunidades, ou seja, o merecimento. Familiar? Essa metodologia ainda se aplica à escola fundamental e média no Brasil. Do ponto de vista eclesial, o “donmilanismo” (e ainda menos a espiritualidade do “convertido” dom Lorenzo) criou uma visão que, alinhada com a modernidade, concretiza o Reino de Deus em um vago Reino dos homens, melhor ainda, dos “pobres”, os quais – até parece que os modernistas esquecem – precisam de conversão e arrependimento como todos os outros homens que Deus criou. Palavras como meio-ambiente, água, ecologia, direitos, democracia, práxis pastoral substituem o vocabulário da Boa Nova: Conversão, Cruz, Ressurreição, Arrependimento, Vida Nova, Caridade, Fé, Verdade... É a práxis contemporânea de certo catolicismo “protestantizado” que deve ser reconvertido à luz do Evangelho, da Tradição, do Magistério... Esse “donmilanismo” mostrou seu verdadeiro rosto secularizado, relativista, confuso, e deve ser serenamente rejeitado.
[13] Don Lorenzo Carlo Domenico Milani Comparetti foi um padre que sempre deu trabalho à Igreja. Está claro em seu “curriculum”. Basta notar o título de um de seus escritos: “A obediência não é mais uma virtude” (sobre “objeção de consciência”. Vide abaixo), ou uma de suas afirmações que lhe valeu um lugar entre os cato-comunistas: “Eu reclamo o direito de dizer que também os pobres podem e devem combater os ricos”... Afastando-se mais uma vez do Magistério e da Tradição da Igreja, foi defensor da “objeção de consciência” – ideal pacifista pelo qual alguém se recusa a servir às Forças Armadas – vindo a escrever uma carta aberta aos capelães militares que denunciavam e combatiam as deserções por objeção de consciência, alegando que a obediência cega a ordens militares em ações violentas contra “trabalhadores inocentes” (leia-se comunistas insuflando os trabalhadores contra os patrões, numa luta de classes criada e alimentada por eles) era uma ofensa à crença cristã. Para o pároco de Barbiana importavam mais princípios éticos que a adesão a duvidosos valores que justificavam atos de guerra que acabavam sacrificando inocentes. A objeção de consciência se aplica também à defesa dos “direitos dos animais” e outros que tais modernistas – que lhe valeu um processo criminal por apologia de crime, pelo qual foi condenado. A morte chegou antes da sentença de apelação que extinguiu o processo por morte do réu. Outro livro, “Experiências Pastorais”, recebeu o imprimatur, mas em seguida foi tirado de circulação por ordem do Santo Ofício. Cf. http://it.wikipedia.org/wiki/Lorenzo_Milani. Crescido em um meio laico e liberal, converteu-se repentinamente aos 20 anos de idade, e a história e razões de sua conversão nunca foram explicitados. Terá sido um dos “infiltrados” encarregados de destruir a Igreja por dentro? Ainda não há respostas.
[14] Rebento anual da vide e de outras plantas, ainda não podado.
[15] Tanto esforço por isso? Essa é a metodologia dos cato-comunistas para ajudar os “pobres” a ter educação de qualidade e igualdade de oportunidades com os alunos ricos? Certamente, não exigem muito deles. Devem se daqueles que dão medalha de participação a todos... sic!
[16] Brincadeira com o ditado: “Mal comune, mezzo gaudio”, literalmente: “um mal em comum (compartilhado) é meia alegria”. Quer dizer: alegrar-se sardonicamente por não sofrer sozinho. Por exemplo, se você tira dois na prova e descobre que teu amigo também, acaba por se consolar sabendo que outros também falharam... Há algo assim em Português?
[17] Isso se aplica a quase tudo hoje, escola, religião, família, trabalho. Nivelamento por baixo, pobreza estética, aculturação são a tônica do moderno, do que basta.
[18] Protestantismo mais uma vez.
[19] Gnocchi e Palmaro, como muitos na Tradição em sentido amplo, creem sincera e firmemente que há uma diferença entre Bento XVI e Bergoglio. Eles estão em algum lugar entre a Verdade e a ilusão. Não enxergam a “big picture”. Estão imbuídos de boa vontade e boa fé, mas ainda não acordaram. Alimentam a esperança de salvar o salvável, de recomeçar de onde se parou. Chegam a “transpirar” ingenuidade.

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