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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

As pressões para um acordo 'diplomático' começaram

É melhor que os lefebvrianos aceitem o acordo com Roma (para salvar Roma)

(por A.Gnocchi e M.Palmaro, em  Il Foglio, 27/01/2012) 

 



Data venia da 'opinião' dos já ilustres Gnocchi e Palmaro, que costumam escrever livros com mensagens positivas em relação à FSSPX, e sobre os quais eu tive o prazer de traduzir algumas análises de Cristina Siccardi e outros, desta vez... deram uma 'bola fora'. Ou várias. Primeiro, porque o conhecimento da matéria em causa que eles possuem é mais ou menos o que todos nós temos. Um pouco mais talvez, mas não o suficiente para poder 'palpitar' publicamente sobre o melhor deslinde para a questão. Segundo, porque há palavras-chaves no discurso deles que fazem eco a outras 'opiniões' expressadas, desta vez, pela ala progressista da Igreja: a 'via diplomática' que legitimaria a mudança do endereço de decisão da Congregação pela Doutrina da Fé para a Cúria das relações ecumênicas do Card. Kasper, e dai para a solução mais óbvia de submissão cega da FSSPX ou cisma. Também mencionam uma 'terceira via', uma opção para que não haja vencedores e perdedores, mas todos vencedores, como fazem na escola brasileira onde todos ganham estrelinhas e medalhas, não apenas o primeiro colocado, para não criar traumas, não embaraçar as pessoas, e cujo resultado, obviamente, é forjar perdedores. Todos: o primeiro colocado, que nunca mais vai se esforçar para se superar, e... o resto, um pelotão de perdedores que continuarão perdedores porque aprendem que não precisam se esforçar para ganhar. O que me preocupa nesse 'manifesto público' dos dois autores que são arroz de festa no mundo tradicionalista é 'porque agora' e 'a mando de quem' este discurso... Sobretudo me chama a atenção a manipulação das ideias: "diante da hesitação da Fraternidade": que hesitação? Quando a FSSPX hesitou? Com que palavras e em que momento? Todo seu agir e seu falar foi sim, sim, não, não. Seus argumentos são claros e sempre foram os mesmos. Suas pretensões, idem. Posso estar enganada, mas uma terceira via só existe na cabeça de quem pretende deixar as coisas como eram antes que Mons. Levebvre começasse a apontar o rei nu da fábula conciliar. Quanto à argumentação "por causa do bem de toda a Igreja"... Qual seria, seguindo essa hipotética terceira via, o bem de toda a Igreja? De fato, o bem da Igreja é esquecer, apagar, deletar o Concílio Vaticano II. Ponto. A preocupação com a 'cara de Roma' diante de uma decisão óbvia e, porque não, corajosa do Papa não passa de respeitos humanos que, sobretudo nesta questão, são hediondos. Heréticos, diria. E, para encerrar, sobre a 'hora' de pôr fim a essas 'rusgas' - porque é isso que está a parecer do discurso de Gnocchi e Palmaro - esse é o desejo dos católicos sinceros, mas não se pode optar por uma via diplomática apenas por uma questão de boas maneiras. Não se trata de uma discussão em família sobre assuntos pequenos. Não se trata de simples boa vontade e bom senso de ambos os lados... É a Verdade que está em jogo, e isso se resolve apenas com a Verdade.  
GdA

É melhor que os lefebvrianos aceitem o acordo com Roma (para salvar Roma)



O acordo sai ou não sai? O diálogo entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X, fundada por Monsenhor Marcel Lefebvre, entrou em uma fase decisiva. O êxito desse diálogo é do interesse antes de tudo de Bento XVI, que o promoveu e alimentou pessoalmente; é do interesse de todos os sacerdotes, os religiosos e os leigos que fazem parte da Fraternidade; e é do interesse de toda aquela mais ampla parte do mundo católico que lefebvriana não é, mas que se coloca na área da Tradição. 



Por motivos diferentes, também o catolicismo progressista e o mundo laico observam com grande atenção, e algum nervosismo. Em suma: a partida que está sendo jogada é importante e difícil, mas o acordo não é impossível. Muitas resistências poderiam se desfazer se se considerasse apenas que, por mais que se discutam questões doutrinárias, isso é feito por via diplomática, até porque está em discussão a sistematização canônica da FSSPX. Se se pode entender a desorientação de Roma diante da hesitação da Fraternidade, se deve compreender também a perplexidade de Fraternidade São Pio X quando lamenta que Roma pede mais do que pediu a qualquer outro para que possa ostentar a discutível categoria eclesial chamada "plena comunhão". Como sair disso?  

Percebendo que nenhuma das duas partes pode faze pagar à outra um preço inexigível: de um lado, Roma não pode pedir à FSSPX de renegar a sua identidade; de outra, os lefebvrianos não podem pretender que Roma perca a cara, com uma rendição incondicional e com uma fantasiosa transformação verbal do atual mundo católico, que é objetivamente um acúmulo de muitas coisas contrastantes.

O sucesso das negociações requer um olhar que saiba manter juntos Fé e realismo. De uma parte, uma visão sobrenatural: o crer que a Igreja é em Roma, de qualquer forma e em todos os casos, não obstante esteja atravessando uma das crises mais graves de sua história; de outra parte, o caminho estreito do realismo, que mire dar à FSSPX a possibilidade de "fazer a experiência da Tradição", segundo uma forma criada justamente por Lefebvre em 1988. Na história da Igreja recorre frequentemente a figura do anão que carrega sobre os ombros o gigante. Trata-se de uma tarefa que, para além do rigor doutrinário e moral, requer humildade e caridade e a consciência de que se ajuda Roma estando em Roma. Não são argumentos novos para os herdeiros de Monsenhor Lefebvre. Mais o tempo passa mais se arrisca de pensar que exista apenas uma alternativa entre duas vias: a sereia que convida a não assinar, porque as condições da Igreja são demasiadamente graves; e a sereia que convida a assinar sem discutir, porque no fundo tudo está bem. Uma e outra via não se enquadram ao sentido mais íntimo de uma instituição surgida após a indiscutível crise que se abateu sobre a Igreja depois do Concílio Vaticano II.

Como costuma acontecer quando se apresenta uma bifurcação, na realidade existe uma terceira alternativa que, neste caso, diz mais ou menos assim: a questão deve ser concluída o mais rápido possível, por causa do bem de toda a Igreja. Em uma tal operação, a Fraternidade não pode ser deixada sozinha diante de uma responsabilidade tão grande. E nisso se faz garante o próprio Bento XVI. Não se pode negar que este Papa tenha caracterizado o próprio pontificado restituindo as honras à Missa gregoriana, retirando a excomunhão aos bispos da Fraternidade a encetando colóquios doutrinários sobre pontos críticos: todas condições requeridas pelos herdeiros de Lefebvre.

Este fato não pode ser ignorado nem pela FSSPX nem pelos negociadores que representam Roma. Os quais sabem muito bem que há mais catolicismo na comunidade lefebvriana – canonicamente irregular – do que em muitas comunidades regularíssimas dentro do mundo católico. Chegou a hora de por um fim a esse paradoxo, com um ato de boa vontade e, também, de bom senso. De ambos os lados. Alessandro Gnocchi, Mario Palmaro

Fonte: Corrispondenza Romana
Tradução: Giulia d'Amore di Ugento
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